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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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Será sustentável?

02 fev, 2018 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Ninguém pode dizer com um mínimo de certeza se o crescimento será sustentável durante muito tempo. Nem para Portugal nem para qualquer outro país.

A nossa economia está a atravessar um bom momento, tanto em termos de crescimento como de criação de empregos. E o mérito das autoridades portuguesas é grande. Basta recordar o que foram as críticas e ameaças externas - hoje transformadas em elogios - quando a política mudou.

Muita gente se interroga sobre se esta evolução favorável será sustentável. E há até quem diga que se trata de um fogacho que rapidamente será interrompido.
A verdade é que ninguém pode dizer com um mínimo de certeza se o crescimento será sustentável durante muito tempo. Nem para Portugal nem para qualquer outro país.
Do ponto de vista imediato, não se vê nenhum factor negativo que faça interromper o crescimento. As finanças públicas melhoram significativamente, a balança corrente com o exterior continua equilibrada, a inflação mantém-se ainda em níveis baixos, próximos da média comunitária. Não há portanto razão para supor que o crescimento vá ser interrompido a curto prazo. Mas evidentemente tal pode vir a suceder, dada a incerteza que hoje caracteriza este mundo globalizado. Basta uma perturbação séria a nível internacional ou uma crise financeira grave para podermos entrar em dificuldades. Mais uma vez: é assim para Portugal como é para a generalidade dos países.
E a médio prazo?
A questão aí é outra e três aspectos devem merecer a nossa atenção. Em primeiro lugar, embora possível, será muito difícil a Portugal obter ganhos significativos em termos de convergência de níveis de vida com os países europeus mais ricos. Mesmo agora que a nossa economia cresce, os ganhos de convergência são diminutos. As instituições da zona euro são as grandes responsáveis por esta dificuldade.
Em segundo lugar, a médio prazo, é expectável a ocorrência de uma crise financeira internacional decorrente do inevitável ajustamento depois de um largo período de taxas de juro anormalmente baixas. Não sabemos se, a suceder, a crise terá uma gravidade semelhante à de 2007. Talvez não. Mas se tiver as consequências para Portugal serão extremamente penosas.

Em terceiro lugar, tendo em vista as dificuldades que poderão ocorrer no médio prazo, é importante contrariar, desde já, através de regulação formal ou informal adequada, comportamentos que podem agravar as condições futuras. À cabeça estão os suspeitos do costume: bolhas imobiliárias e excesso de crédito.

Comentários
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  • Vera
    04 fev, 2018 Palmela 15:52
    " Mesmo agora que a nossa economia cresce, os ganhos de convergência são diminutos. As instituições da zona euro são as grandes responsáveis por esta dificuldade." Se eu ainda me lembro, a meio dos anos 80, vários jovens com idades entre os 20 e 30 anos procuraram emprego por tudo o que era sítio e por falta de 'padrinhos, ou compadres' como lhes queiram chamar, não conseguiram! o tempo passou e agora esses jovens, têm cerca de 50 anos e deviam de estar a produzir! entretanto o ensino mudou e quem aparece agora para trabalhar, não tem habilitações à altura desses empregos! Onde estão agora aqueles se saíram engenheiros e que têm agora entre 50 e 55 anos? uns na Alemanha, outros em Angola, outros na Austrália, na Holanda e no Japão! então, pode ser que eles queiram voltar... 'as andorinhas voltam sempre na Primavera, mas é só de visita'.
  • António Costa
    02 fev, 2018 Cacém 16:20
    Ninguém tem uma bola de cristal. Há muitos séculos atrás ocorreu, uma terrível guerra, no que é hoje a "Coreia do Norte". Tribos inteiras fugiram através da Ásia, num gigantesco efeito Dominó. Os povos "bárbaros" do leste da Europa acabaram por ser "empurrados" pelas tribos guerreiras vindas da Ásia. Resultado, o Império Romano viu-se a braços com a entrada sem precedentes de povos vindos do leste. Pior os Romanos na parte final do Império recrutavam os seus soldados junto dos povos "bárbaros". Estes sabiam muito bem como funcionavam as legiões romanas. Enfim, como a História se tende a repetir, parece que "problemas" na Coreia venham voltar a ter graves consequências para o Ocidente.