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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​A humilhação continua

05 jan, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Foi e é humilhante para Portugal a entrada da Guiné Equatorial na CPLP. País que ainda não deixou de violar o Estado de direito.

“Todos os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) estão obrigados aos seus estatutos, que são claros quando dizem que todos nós nos comprometemos com a prática do Estado de direito e do primado da lei”. Estas recentes afirmações do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, tiveram escassa repercussão na nossa comunicação social. Compreende-se: embora não referida, está obviamente em causa a Guiné Equatorial, que agora desgraçadamente faz parte da CPLP, mas manifesta o mais completo desprezo pelo Estado de direito. Há meses ter-se-ão multiplicado ali prisões e torturas a membros da oposição.

A Guiné Equatorial, uma antiga colónia espanhola que não tem laços culturais com os países lusófonos, aderiu formalmente à CPLP na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo em Díli, em 2014. Portugal foi então forçado a aceitar o novo membro, perante a pressão de países como Angola. A Guiné Equatorial suspendeu a pena de morte – na lei, não necessariamente na prática – para aderir à CPLP. E comprometeu-se a difundir o uso da língua portuguesa, até agora com escassos resultados.

O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, tomou o poder em 1979, através de um golpe de Estado contra o próprio tio, Francisco Macías, que foi depois fuzilado. Obiang e membros da sua família têm uma das maiores fortunas em África, segundo a revista Forbes. E enfrentam processos em alguns países por corrupção, fraude e branqueamento de capitais, além de acusações de violação dos direitos humanos.

Não são declarações como a citada no início deste artigo que mudarão o que quer que seja naquele país, onde, aliás, quase não se fala português. De resto, na CPLP não é só a Guiné Equatorial que viola o Estado de direito – veja-se, por exemplo, a incompreensão do novo Presidente de Angola, João Lourenço, para com a separação de poderes entre a área política e o sector da justiça, separação que é respeitada em Portugal, como trave essencial do regime democrático.

Uma vez que os governantes portugueses receiam ofender os seus parceiros na CPLP se lhes apontarem violações ao Estado de direito, mais vale, então, falar o menos possível desta organização e da Guiné Equatorial.

Comentários
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  • Justus
    06 jan, 2018 Espinho 22:13
    Claro que Sarsfield Cabral não fala e esconde, propositadamente, que esta adesão só foi possível com a conivência de Cavaco e Silva, o Presidente da República que sempre primou pela hipocrisia, e também com a complacência de Passos Coelho, que, além da hipocrisia sempre se marimbou para os direitos humanos.
  • MARIA SILVEIRA
    06 jan, 2018 lisboa 17:21
    Tem toda a razão, Quando diz que PORTUGAL se curva às ordens de países que sempre dependeram de nós e que hoje são governados por ditadores ou pré-ditadores, que inclusivamente ofendem o n/Pais representado pelo nosso Presidente e que nem sequer falam português e nem têm qualquer ligação connosco e ainda nos querem impor um AO que não tem nada a ver com a LINGUA PÁTRIA. Só espero que no segundo caso o AO fique em(águas de bacalhau) porque não tem nexo escrevermos (Fato) relativo a uma qualquer coisa relevante e terno relativo ao fato de um homem
  • josé ribeiro
    06 jan, 2018 Coimbra 13:26
    Mais uma vez se demonstra o quanto de hipocrisia tem a política, apenas importa tirar o máximo partido das oportunidades de negócio que vão surgindo que em abono da verdade a preocupação não é por uma questão de economia da nação, mas para os negócios que os representantes políticos e governantes procuram para si, para os familiares, amigos e alimentar "lobis" que mais tarde os irão compensar pelos serviços prestados, no fundo, não são melhores que os déspotas que apoiam e que transformam este país num paraíso para os corruptos, ladrões e oportunistas enquanto o cidadão contribuinte continua a pagar todas as burlas e desvios que estes "criminosos do nosso burgo" fazem.
  • Newton
    05 jan, 2018 Lisboa 11:58
    O poder da economia sobrepõe-se á cartilha internacional ,a nova religião apócrifica e é melhor respeitar os Países não intervindo como forças de desiquilibrio pois irao ter consequências económicas funestas.Trump virou a pagina na politica internacional do intervencionismo e mta gente ainda não interiorizou e continua a pensar em moldes irrealista.O guito distribuído pelo EUA a organizações desestabilizadoras até pra EUA está a acabar ,portanto arranjem outro trabalho de acordo com a nova realidade.A manta dos EUA já não cobre certas ideologias e comportamentos e sem ela nada a fazer.