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Luís Cabral
Opinião de Luís Cabral
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​Eutanásia

29 dez, 2017 • Opinião de Luís Cabral


A eutanásia entrou para o topo da lista de temas fracturantes.

O sociólogo Moisés Espírito Santo (MES), um dos "especialistas"citados pela esquerda portuguesa, defende que "o Estado não se deve intrometer porque a eutanásia não traz prejuízo a ninguém".

Espírito Santo (o sociólogo) acrescenta também a sua análise teológica, "demonstrando" que a Bíblia "está a favor" da eutanásia ("É melhor a morte do que uma vida sem proveito", lê-se no Livro Sirácida).

A fraqueza de "teologia" de MES não é surpreendente: a citação "avulsa" de versículos da Bíblia é a forma mais fácil de justificar qualquer posição política, económica, social, etc. A mensagem da Bíblia tem de ser entendida no seu conjunto, um princípio básico conhecido como "analogia da fé".

O que mais surpreende em MES é que um sociólogo — um académico treinado na análise das relações entre os membros de cada sociedade — seja capaz de afirmar que "a eutanásia não traz prejuízo a ninguém". Em que planeta vive MES? Como afirma Carine Brochier, directora do Instituto Europeu de Bioética, "a pessoa é um ser de relações, não estamos sozinhos numa ilha.”

Existe outro argumento a favor da eutanásia, o argumento do valor radical da liberdade: "eu faço o que quero e ninguém me pode impedir de me suicidar". Os termos deste debate são mais complicados, pois a natureza profunda do dom da liberdade é facilmente confundível com "imitações baratas".

Espero poder escrever sobre essa outra dimensão em tempo oportuno. Por hoje, fico com esta moção de protesto contra sociólogos como MES:

Afirmar que o suicídio — assistido ou não assistido — é uma decisão que não interessa a ninguém para além do próprio, que "não traz prejuízo a ninguém", mostra uma fundamental falta de seriedade intelectual e honestidade política.

Comentários
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  • João Lopes
    01 jan, 2018 Viseu 16:11
    Excelente análise do Economista e Prof nos EUA Luís Cabral. A eutanásia e o suicídio assistido são diferentes formas de matar. Os médicos e os enfermeiros existem para defender sempre a vida humana e não para matar, nem serem cúmplices do crime de outros.
  • MASQUEGRACINHA
    30 dez, 2017 TERRADOMEIO 18:17
    Então, o articulista pensava que a eutanásia já tinha saído do topo da lista dos temas fraturantes? Não percebo porquê. Aliás, seja qual seja a decisão legislativa que venha a ser tomada sobre a questão, esta nunca vai sair do topo da tal lista, tal como acontece com o aborto. Isto porque são temas que fraturam não só a sociedade, mas também as consciências individuais - legislar, nestes casos, destina-se a descriminalizar comportamentos e não a torná-los obrigatórios. Se isso é evidente no caso do aborto ou do suicídio assistido (ninguém pode ser obrigado a suicidar-se ou a abortar), já se torna bastante mais complicado no caso da eutanásia, em que o indivíduo incapacitado para se expressar, depende das decisões - e interesses? - de terceiros. De qualquer maneira, parece-me de todo prematuro legislar sem a existência de uma rede alargada e consolidada de cuidados paliativos, que proporcione uma real solução alternativa. Quanto ao que diz sobre os mafarricos a citarem a Bíblia, e com todo o respeito que me merece, não lhe parece esse um argumento assim a puxar um bocadinho para o fundamentalismo tacanho? O Livro já alcançou um estatuto de universalidade que o retira dos direitos exclusivos de citação das religiões que nele se fundaram - porque nele se baseia, para o bem e para o mal, de forma já genética, a história e cultura de grande parte da humanidade, ateus incluídos. Portanto, todos têm direito à mesma tolice: recorrer à "autoridade" bíblica para argumentar no séc. XXI.