Para desvendar o mistério que envolve as pinturas recém-descobertas na igreja do Espírito Santo, em Évora, e lançar um novo olhar sobre a pintura mural eborense do séc. XVII, a Universidade de Évora (UÉ) anuncia a realização de “um estudo multidisciplinar”.

Trata-se de um trabalho que vai ser levado a cabo pela instituição, através do seu Laboratório HERCULES e do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS),

No total, “são seis as pinturas murais descobertas no mês passado pela empresa que se encontra a reabilitar este monumento religioso unido ao edifício principal da Universidade de Évora”, refere um comunicado da academia alentejana, enviado à Renascença.

As pinturas murais colocadas a descoberto, estavam tapadas pelas pinturas em tela nas tribunas da nave da igreja, retiradas para restauro em atelier.

“Dos oitos murais originalmente presentes, só restam seis, ainda que só um subsista na íntegra”, indica Milene Gil, investigadora do Laboratório HERCULES que lidera a campanha científica, recentemente iniciada, com a finalidade de fornecer dados para a futura salvaguarda desse núcleo pictórico.

A especialista sublinha que “apesar do estado fragmentário dos restantes cinco murais, é notória a qualidade plástica que os une na técnica e na materialidade.”

Com esta campanha, pretende-se desenvolver “um diagnóstico rigoroso”, através “da identificação dos materiais empregues e do seu atual estado de conservação”, lê-se na nota.

Outro dos aspetos relevantes, prende-se com a identificação técnica pictórica, tendo em conta que “as pinturas não foram executadas na técnica do fresco, mas sim, a seco com óleo como aglutinante”, revelam pesquisas de arquivo efetuadas por Antónia Fialho Conde, que é professora do Departamento de História da UÉ e investigadora do CIDEHUS.

A historiador alega que “o relato do P. Manuel Fialho (1616-1718) na obra manuscrita Évora Ilustrada sobre os painéis é bastante elucidativa a respeito”, uma vez que o autor “não só identifica a técnica de pintura como sendo a óleo sobre a cal da parede, como ele exalta os resultados alcançados e a defende de quem, já na época, a queria destruir para a colocação de telas”.

Para as docentes da UÉ, “está aberto o caminho à investigação”, por um lado, para “comprovar tecnicamente, no local e em laboratório, a descrição do P. Manuel Fialho”, ou seja, “a existência de pintura a óleo sobre cal, deixando mais fluidas as fronteiras entre a pintura mural e a pintura de cavalete.”

Por outro lado, e no que diz respeito à questão artística, vai procurar-se “desvendar tanto a iconografia representada, e a sua relação com o espaço da igreja como de todo o Colégio”, assim como “a autoria dos painéis, tendo como referência a data de 1630 apontada pelo autor para a sua realização”, adianta a instituição.

Situada em pleno centro histórico de Évora, mesmo ao lado do principal edifício da universidade, a igreja do Espírito Santo foi construída entre 1566 e 1572, pela Companhia de Jesus.

O templo está, de momento, a ser alvo de obras profundas, depois da Arquidiocese de Évora ter assinado um contrato com uma empresa da especialidade, para a realização da empreitada para a sua recuperação e requalificação.

Considerada testemunho fundamental da arquitetura, arte se missão dos Jesuítas, a igreja, que pertence ao Seminário Maior de Évora, estava há muito a necessitar de obras que, desta feita, incluem o restauro, estrutura e consolidações, infraestruturas elétricas, mecânicas, águas e esgotos, museológicas e acessibilidades exteriores.

O projeto de requalificação do imóvel foi candidatado e aprovado pelo Programa Operacional Regional Alentejo 2020, que lhe destinou um financiamento de 75% do investimento, sendo os outros 25% suportados pelo Seminário eborense.

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