A redefinição de "Medeia" e do papel da mulher, no tecido social, são questões recuperadas pela versão da tragédia, que a Companhia João Garcia Miguel estreia no Teatro Ibérico, em Lisboa.

"Medeia", de Francisco Luís Parreira, a partir da tragédia homónima de Eurípides, abre a temporada de 2018 da companhia, tem música ao vivo de Mário Laginha e é interpretada por Sara Ribeiro e David Pereira Bastos. O figurino é de Rute Osório de Castro e a encenação de João Garcia Miguel.

A Companhia João Garcia Miguel põe em evidência a relação entre o passado e o futuro e levanta questões que considera estarem subjacentes à obra de Eurípides - o papel do feminino e a perda do seu poder simbólico, com a transição de uma sociedade matriarcal para outra, de caráter patriarcal, a redefinição do tecido social e político, que daí advém, e a transparência das relações interpessoais, além de outras questões relacionadas com a emigração e o estatuto do refugiado. Porque, para a companhia, "é neste sentido que a obra mantém atualidade e pertinência" no mundo contemporâneo.

O enredo cruza paixão, traição e vingança. Medeia, filha do rei da Cólquida, apaixona-se por Jasão, apoia-o na conquista do velo de ouro, contrariando o pai, salva-o e foge com ele para a Grécia.

Depois de anos de casamento, Jasão troca Medeia por Gláucia, filha de Creonte, rei de Corinto. Para proteger Gláucia, Creonte envia Medeia e seus filhos para o exílio. Incapaz de controlar a inveja, Medeia vinga-se e impera a morte: mata a amante de Jasão e os filhos de ambos, deixando que Jasão sobreviva.

"Medeia, em grego Mideia, significa 'a do bom conselho' e, durante muitas tradições, ela é apresentada como dotada de inteligência superior. Um dos seus poderes mais conhecidos era o de rejuvenescer, que conjugava o poder sobre a morte, o poder sobre a vida e sobre o renascimento", recorda a companhia.

As lendas mais antigas tinham um final mais feliz para Medeia e Jasão. Há versões que contam que Medeia rejuvenesceu Jasão, homem envelhecido. Há ainda a história de que os Corintos subornaram Eurípides, para que ele os livrasse das culpas de terem morto os filhos de Medeia.

Além da estreia, "Medeia" tem mais cinco récitas no Teatro Ibérico: de 23 a 25 de fevereiro e de 28 de fevereiro a 1 de março.