A classificação a Património Cultural e Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, "banalizou e desqualificou" o fado, afirma o músico e compositor Pedro Caldeira Cabral, em entrevista à Renascença.

“O que se passou depois da classificação e da promoção do fado como Património da Humanidade, o efeito acabou por ser exactamente o contrário, foi a banalização. Foi um efeito de desqualificação do instrumento e, por isso, eu acho que hoje estamos na altura de fazer exactamente o mesmo movimento, mas em sentido inverso, que se fez no século XIX”, defende o instrumentista, que comemora 50 anos de carreira.

Pedro Caldeira Cabral lamenta que o fado se tenha tornado numa “indústria turística”, o contrário do que deve ser a cultura.

“O fado está muito padronizado, está muito ligado a uma indústria turística e tornou-se muito uma indústria turística e uma indústria do divertimento, e isso é exactamente aquilo que se opõe à cultura.”

Nesta entrevista à Renascença, o músico e compositor considera que, actualmente, é mais difícil ter uma carreira como solista.

“Eu hoje não toco guitarra portuguesa, eu hoje toco citara portuguesa, porque a subtileza, a procura da qualidade sonora, das capacidades expressivas do instrumento que eu utilizo, com uma música com um repertório que é muito alargado, vem desde o século XVI até ao século XXI, com as minhas mais recentes composições, exigem que eu destaque o instrumento de outra maneira. E, ao contrário do que se possa pensar, hoje é muitíssimo mais difícil em Portugal fazer-se uma carreira solística do que foi para a minha geração”, sublinha.

Pedro Caldeira Cabral comemora meio século de carreira com um concerto, já esgotado, no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, esta quinta-feira.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai condecorar o músico Pedro Caldeira Cabral, com o grau de grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique.