O Papa Bento XVI admite que lhe faltou determinação durante o seu pontificado.

Num livro-entrevista com o jornalista alemão Peter Seewald, que será publicado em Setembro, Bento XVI faz um balanço do seu ministério enquanto Papa, tornando-se o primeiro a fazê-lo nos 2000 anos de história da Igreja.

O jornal italiano “Corriere della Sera” teve acesso ao livro e publicou esta sexta-feira um longo artigo sobre o seu conteúdo, destacando o facto de Bento XVI ter reconhecido que lhe faltou determinação enquanto deteve o poder em Roma, um aspecto da sua personalidade que já vinha de trás, diz, recordando que quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé apresentou várias vezes a sua demissão ao então Papa João Paulo II, mas esta foi sempre recusada.

O Papa emérito admite ainda a existência de um “lóbi gay” na Santa Sé, tal como foi amplamente especulado na altura da sua resignação, mas diz que este foi identificado e neutralizado. Segundo o jornal italiano, tratava-se de um grupo composto por quatro ou cinco pessoas.

Embora o Vaticano nunca tenha especificado, a maioria dos observadores e analistas da Santa Sé considera que os membros desse alegado lóbi, mais do que promover mudanças na postura da Igreja sobre a homossexualidade, encobriam-se uns aos outros e procuravam avançar a progressão das suas próprias carreiras na curia romana.

Numa passagem importante, Bento XVI sublinha novamente que resignou de livre vontade e que não sofreu qualquer tipo de pressão.

A luta contra a "porcaria na Igreja"

No livro, ainda segundo o jornal italiano, Bento XVI rejeita as acusações de ter sido "demasiado académico" e de ter sido um "restaurador" em termos litúrgicos. Ratzinger refere ainda as dificuldades que se lhe apresentaram quando tentava mexer naquilo a que chama a "porcaria na Igreja", aludindo a questões como a pedofilia e abusos sexuais praticados por membros do clero.

O Papa alemão admite que foi apanhado de surpresa pela eleição do seu sucessor argentino, embora essa surpresa se tenha transformado depois em "alegria" ao vê-lo "a comunicar e a rezar com a multidão". Já a sua própria eleição, em 2005, o deixou “incrédulo”.

Ainda segundo o “Corriere della Sera”, Bento XVI diz que manteve um diário durante todo o tempo do seu pontificado, mas que o irá destruir antes de morrer, reconhecendo todavia que o mesmo representa uma “oportunidade de ouro” para os historiadores.

Já João Paulo II tinha pedido para que todos os seus documentos pessoais fossem destruídos depois da sua morte, mas essa ordem não foi atendida.

O livro de mais de 200 páginas, intitulado "Bento XVI: Conversas finais", tem data de lançamento marcada para 9 de Setembro.

[Notícia corrigida às 15h49]