Portugal tem um problema de produtividade, é um dado adquirido em todos os relatórios internacionais que justifica a nossa débil economia. Os portugueses contestam esta conclusão apesar de não conseguirem explicar porque é que produzimos menos do que os nossos parceiros europeus.

Há contudo uma explicação, que muitas vezes é avançada pelos sindicatos e que uma simples observação da realidade nacional permite comprovar. O problema português não está na força de trabalho, está nas lideranças e nas elites.

Vem isto a propósito de um caso nada “silly” deste Verão, que envolve três secretários de Estado, escolhidos a dedo pela Galp para serem presenteados com viagens a Paris para ver os jogos de Portugal no Europeu de futebol. Os ditos não viram qualquer problema em aceitar o convite, nem sequer se perguntaram porquê eles e não outros?

Eu explico:

  • O secretário de Estado dos assuntos fiscais tem na sua secretária um diferendo com a Galp por causa de dezenas de milhões de euros que a empresa se recusa a pagar ao Estado.
  • O secretário de Estado da indústria tutela directamente a actividade da Galp.
  • O secretário de Estado da internacionalização da economia tem que dar um parecer decisivo a um projecto que a Galp apresentou junto da agência para o investimento estrangeiro.

Alguém acredita que os convites foram feitos por acaso? Não, mas o Governo diz que isso já lá vai, os senhores vão pagar as despesas e o assunto está encerrado.

Esperemos que não esteja encerrado, porque os dossiers estão na mesa do governo à espera de decisões que os responsáveis políticos não podem tomar, sob pena de verem impugnadas as suas decisões.

Mas este é apenas um caso que ilustra a triste história do nosso quotidiano: começa-se secretário de Estado, vão-se fazendo umas jogadas e quem sabe onde se pode chegar, há quem chegue a presidente do Goldman Sachs.

O problema é que em Portugal também há muitos portugueses com valor e mérito que infelizmente vêem a sua reputação ser manchada por estas histórias. É por isso que hoje não podemos deixar de falar do bom exemplo de António Guterres.

O ex-primeiro-ministro quer muito ser Secretário-geral das Nações Unidas, é um desejo legítimo e para o qual o próprio acredita ter especiais qualidades. Guterres arregaçou as mangas há muitos meses e tem vindo, a pulso, a conquistar uma posição privilegiada para conquistar o lugar.

Se lá chega ou não, é ainda cedo para saber, mas como os nossos atletas, Guterres acredita em si próprio, nas suas capacidades e se conseguir o lugar ninguém terá dúvidas sobre o mérito próprio deste português que conquistou a excelência nos palcos internacionais.