Quanto tempo dura uma lua de mel no PSD? Quanto tempo aguentarão Paulo Rangel ou Miguel Pinto Luz como vice-presidentes do partido e sem se distanciarem do novo líder? Um ano ou o tempo de mandato de dois anos que Montenegro depois quer ver renovado?

Que fará o PSD à clássica autofagia em que consegue entrar de tempos a tempos? À primeira vista, o baronato social-democrata terá percebido que este é mesmo o tempo do ou vai ou racha pela sobrevivência do partido.

É difícil de pensar que a cola de tudo isto possa ser, nem que seja temporariamente, Pedro Passos Coelho. Olha-se para o novo PSD e vê-se um velho. Todo o estado maior passista ocupa os principais órgãos de direção de Luís Montenegro. De Maria Luís Albuquerque a Carlos Moedas, de Teresa Morais a José Matos Correia ou António Leitão Amaro e Pedro Reis.

O partido sujeita-se neste novo ciclo a ficar colado a um ciclo passado que lidou diretamente com a 'troika', com a austeridade, com a tese de que o país 'aguenta-aguenta' apesar de medidas restritivas. Montenegro quer dar a volta ao partido com o baronato todo, mas um baronato intensamente passista.

E a esquerda vai aproveitar isso mesmo. O presidente do PS, Carlos César, foi claro sobre isso no final do congresso social-democrata: "o futuro do PSD é o regresso ao passado", acusando Montenegro de ser "heterónimo político de Passos Coelho".

O risco, de facto, será enfrentar um ciclo de eleições - que começa já em 2023 com as regionais da Madeira - com a esquerda a olhar para trás e o PSD a tentar manter o pensamento em frente.

Assumindo o partido como fazendo parte do clube dos moderados, Montenegro mostra querer um percurso autónomo para o PSD. Só vê como verdadeiro amigo o CDS de Nuno Melo. A questão é que força eleitoral terão os centristas quando chegar a hora. Na Madeira, por exemplo.

Miguel Albuquerque perdeu a maioria no governo regional e precisou do CDS. Mas não diz que não a uma aproximação ao Chega, se for preciso. No congresso do Porto, Montenegro deixou claro o corte com o partido liderado por André Ventura. Mas, e se na Madeira for preciso?

Fazendo agora a projeção e se tudo correr normalmente, Montenegro deverá estar de volta às eleições internas daqui a dois anos. Com ou sem Carlos Moedas ao lado? Com ou sem Carlos Moedas a disputar-lhe a liderança? O partido delirou quando o presidente da câmara de Lisboa subiu ao palco como dirigente eleito e tem uma aceitação quase absoluta no PSD.

A verdade, entretanto, é que já ninguém quer saber de Rui Rio. O passado eclipsou-se de vez em três dias. Um montenegrista e atual dirigente nacional comentava cinicamente aos jornalistas que com a saída do ex-líder lhe saía "um peso de 30 quilos de cima das costas".

O que é facto é que o congresso aplaudiu muito pouco o homem que governou o partido durante quatro anos quando a imagem de Rio apareceu no meio de todos os ex-líderes. Mas, o passado do PSD mostra que não há verdadeiras mortes políticas. Santana Lopes vai estando por aí a prová-lo.