O ministro da Defesa criticou, esta sexta-feira, a presença de Mário Machado, líder do movimento de extrema direita Nova Ordem Social, num programa da TVI, comparando esta decisão às "de quem ateia incêndios".

"Vivemos tempos complexos e é preciso ter a noção que uma atitude destas por parte da estação em causa não é muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver as labaredas", escreveu João Cravinho, num texto publicado ao final da manhã na sua conta do Twitter.

Mário Machado, condenado por envolvimento na morte de Alcino Monteiro, foi convidado no âmbito da rubrica "Diga de sua (In)Justiça", do programa "Você na TV", da TVI, que tinha como tema "Precisamos de um Novo Salazar?". A rubrica é da responsabilidade de Bruno Caetano, que a TVI identifica como repórter.

O ex-líder da Frente Nacional esteve preso dez anos, em cúmulo jurídico, por crimes como discriminação racial, coação agravada, posse ilegal de arma, danos e ofensa à integridade física qualificada.

“Em nosso nome não!”, protesta o Sindicato dos Jornalistas

Um dia depois de o programa ter sido emitido, o Sindicato dos Jornalistas anunciou que vai apresentar queixa contra a TVI junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e da Assembleia da República.

Num comunicado intitulado "Em nosso nome não!", publicado hoje na página da Internet, o Sindicato dos Jornalistas considerou "inqualificável o tempo e o espaço concedido pelo canal de televisão TVI a Mário Machado, conhecido líder da extrema-direita, várias vezes condenado e preso por diversos crimes".

"Os programas "Você na TV!" e "SOS 24", nos canais TVI e TVI24, respetivamente, deram voz a um racista explícito e um salazarista assumido, que defende o regresso de Portugal à ditadura e a quem foi dada a oportunidade de se dedicar ao branqueamento histórico, em sinal aberto e para um grande público, com pouco ou nenhum contraditório", sublinha o SJ.

No atual contexto europeu, escreve o SJ, "é fundamental que o jornalismo se exerça em defesa da democracia, sem a qual a liberdade de expressão não existiria".

"Esse mesmo contexto, de crescimento da extrema-direita, do populismo e do nacionalismo, impõe que os jornalistas -- a título individual, mas também os órgãos de informação, suas direções e administrações -- reflitam sobre o papel que desempenham na eliminação do racismo, da xenofobia e da discriminação -- e, sobretudo, ajam em conformidade", lê-se no texto.

No entendimento do SJ, a opção da TVI foi "irresponsável" e, por isso, apela ao canal para que pare de usar indevidamente o termo "repórter", que só deve ser aplicado a quem é, efetivamente, jornalista com carteira profissional.

Na nota, o SJ sublinha também que o "entretenimento -- que, por vezes, serve de refúgio para contornar regras e violar princípios -- também tem de respeitar a Constituição da República Portuguesa".