Numa altura em que a taxa de sobrevivência ao cancro está a aumentar, a questão que se levanta é sobre a reintegração social dos ex-doentes.

“É um problema que nos preocupa”, reconhece Nuno Miranda, diretor do Programa Nacional Para as Doenças Oncológicas. “É mais um problema social do que médico”, mas “as respostas da sociedade – e não só da portuguesa – têm sido escassas”, reconhece.

O acesso ao crédito, aos seguros de saúde e ao mercado de trabalho são os principais entraves encontrados por quem já enfrentou uma doença oncológica.

“Já há algumas diferenças e essas têm a ver com a mudança da atitude perante a doença”, reconhece o responsável. Por exemplo, ao nível do crédito bancário, “hoje já existe possibilidade de obter crédito quando se exclui do seguro a morte por doença oncológica”.

“O problema habitual é mais ao nível das seguradoras do que ao nível dos bancos”, aponta Nuno Miranda, reconhecendo que esta é “uma matéria que tem que preocupar”, dado que muitos sobreviventes “são pessoas completamente curadas, que tiveram uma doença há 20 anos e que sabemos que não vão voltar a ter problemas”.

Apesar disso, são “marginalizados ou diminuídos na sua capacidade de concorrência no mercado de trabalho”.

Porque muitos ex-doentes não conseguem aguentar um horário completo de oito horas, chegou ao Parlamento uma petição a defender a redução do tempo de trabalho para pessoas que tiveram cancro.

Nuno Miranda diz-se “a favor da redução do tempo de trabalho”, mas “de acordo com a incapacidade das pessoas – ou seja, eu não acho que tenhamos ou devamos olhar para os ex-doentes oncológicos como deficiente”.

“O nosso objetivo é reintegrá-los completamente”, sublinha na Renascença, reconhecendo que a solução de trabalho a tempo parcial – “pouco comuns em Portugal quando comparamos com a realidade de outros países europeus” – seria “muito útil para os doentes oncológicos ou para outro tipo de doentes”.

Na emissão especial da Manhã da Renascença, feita esta sexta-feira a partir do IPO de Lisboa, esteve também a ex-vocalista dos Silence 4 Sofia Lisboa, que expôs seu caso para denunciar a falta de oportunidades dadas a quem consegue curar-se da doença.

Na sua opinião, não há uma vida digna após a doença. “Ou as pessoas voltam para os seus empregos e estão constantemente de baixa, porque não aguentam oito horas de trabalho, ou o tratamento dura tanto tempo que as pessoas ficam reformadas por invalidez, como eu”, exemplifica.