Seria capaz de perdoar ao seu agressor, ou ajudar agressores a redimirem-se dos seus passados?

Esse trabalho pioneiro em Portugal será feito em breve através do Observatório e Centro de Competências em Justiça Restaurativa, que foi apresentado esta quarta-feira em Cascais.

A ideia passa por colocar em diálogo agressores detidos e vítimas do mesmo tipo de crimes.

Luís Graça, da Associação Confiar é um dos dinamizadores desta iniciativa e chama a atenção para o papel de reabilitação deste projecto.

“Quem se reconcilia com o seu passado e quem sente que uma vítima, se bem que de um crime idêntico, não estamos a falar de vítimas directas, o consegue perdoar, essa pessoa consegue-se reconciliar com o seu passado criminal. E quem se reconcilia com o seu passado consegue comprometer-se com o futuro”, explica.

“Por outro lado, a vítima, em vez de cristalizar e vitimizar-se para o resto da vida, consegue libertar-se desse enorme peso. Isso é um renascer da parte da vítima”, explica.

A justiça restaurativa, que aposta sobretudo na reabilitação dos reclusos e na sua reintegração na sociedade, está em debate esta quarta e quinta-feira em Cascais, num fórum europeu e asiático.

Ajudar reclusos, vítimas e as suas famílias a ultrapassar problemas de culpa e revolta é o grande objectivo e é nesse sentido que se preparam formas de ajudar os reclusos estrangeiros em Portugal.

Mais de dois mil presos estrangeiros vão ser apoiados através do projecto GARE, o Gabinete de Apoio ao Recluso Estrangeiro, que conta com o apoio das embaixadas e da Direcção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais.

Questionado sobre a importância de apoiar criminosos nestas situações, Luís Graça, director da associação Confiar responde: “Imagine o que é estar num país preso sem falar a língua dos guardas, nem a língua dos companheiros de cela. Depois, está longe da sua família que lhe poderia dar apoio. Sim, cometeu um crime, sim, deve ser penalizado, mas deve ser tratado com a dignidade que o seu estatuto de pessoa lhe permite”.