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Num artigo publicado esta quarta-feira, o jornal espanhol “El Mundo” fala em “evidente falta de coordenação entre as autoridades” portuguesas no combate ao incêndio de Pedrógão Grande e considera que a “gestão desastrosa da tragédia pode pôr fim à carreira política de António Costa”.

O diário refere que Portugal reagiu ao incêndio “com optimismo”, mas que tudo acabou “no mais absoluto caos”.

“A evidente falta de coordenação entre as autoridades, tanto ao nível do combate às chamas como da comunicação com os meios, provocou uma chuva de críticas à gestão do desastre por parte do Governo do primeiro-ministro António Costa e, em particular, da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa”, lê-se.

Para ilustrar a descoordenação, o jornal descreve o que se passou na terça-feira, dia que começou com a previsão da Protecção Civil de ter o fogo controlado nos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco em 24 horas e que terminou com a evacuação dos municípios de Góis e Lousã e uma “confusão gerada por uma falsa notícia sobre o desaparecimento de um avião de combate a incêndios”.

O “El Mundo” diz que o vice-presidente da Câmara de Góis reconheceu “que a confusão gerada nos últimos dias criou desconfiança entre muitos residentes mais idosos, que resistiram a sair das suas casas”.

O diário faz ainda referência ao incidente com a coluna de 60 bombeiros galega que foi vetada à entrada do país.

“Inexplicavelmente, apesar de o incêndio se alastrar e os bombeiros lusos reconhecerem que as condições no terreno os ultrapassava, a ministra Urbano de Sousa vetava a entrada de uma coluna de 60 bombeiros galegos no território português. A ministra confirmou que tinha recusado a ajuda, garantindo que ‘já havia excesso de voluntarismo’ no terreno”, escreve o jornal.

O dia acabou com a confusão criada com o anúncio da queda de um avião Canadair, inicialmente confirmado pelas autoridades lusas, mas cuja nacionalidade o Ministério da Administração Interna recusava avançar.

A surpresa absoluta, diz o “El Mundo”, foi, quase duas horas depois, as autoridades virem desmentir a queda do avião.

O fogo que começou em Pedrógão Grande está hoje no quinto dia. As últimas informações indicam que não há propriamente frentes de incêndio, mas alguns focos de reacendimento a que os bombeiros estão atentos.

Pelo menos duas aldeias foram evacuadas no concelho de Góis durante a madrugada, por precaução, e mais de mil operacionais continuam no terreno. Foram também accionados 13 meios aéreos.

Este incêndio provocou a morte a 64 pessoas e ferimentos em mais de 150, sete das quais se encontram em estado grave. Uma delas é uma criança.

“El Mundo” pinta um país incapaz

Esta não é a primeira vez que o jornal critica a reacção das autoridades portuguesas ao incêndio de Pedrógão Grande. Na segunda-feira, um editorial falava em “inoperância” e “alarmante falta de recursos” para concluir que “este terrível episódio mostra que Portugal não está preparado para fazer frente ao fogo”.

No mesmo dia, um artigo assinado por Sebastião Pereira questionava “Porque arde Portugal a cada Verão” e citava um estudo da Universidade de Vila Real para dizer que, entre os anos 2000 e 2013, “mais de metade dos fogos registados no Sul da Europa tiveram lugar em Portugal”.

Quanto a conclusões, Sebastião Pereira lembra que a Revolução de 25 de Abril de 1974 levou à privatização de muitos parques nacionais e que muitos foram cobertos de eucaliptos.

É ainda destacado que a maioria dos incêndios deflagra em aldeias abandonadas.

O mesmo jornalista assina um artigo publicado esta quarta-feira de madrugada com o título “Tragédias inconcebíveis, resgates milagrosos”.