O antigo juiz da Audiência Nacional de Espanha Baltasar Garzón denunciou, esta terça-feira, nas Conferências do Estoril, que não há vontade política de investigar a corrupção, nem acabar com os paraísos fiscais, e referiu que o sistema judicial não se pode submeter ao poder político.

Garzón falava num painel partilhado com juiz do Tribunal Central de Investigação Criminal Carlos Alexandre, com o magistrado do Ministério Público italiano que conduziu a operação "Mãos Limpas" Antonio Di Pietro e com juiz Sergio Moro, que lidera a investigação Lava Jato, no Brasil.

"Quando o sistema judicial quer investigar os crimes de corrupção, aparecem todas as dificuldades", disse Garzon, mostrando-se indignado com o facto de, nem a União Europeia nem a OCDE, acabarem com os paraísos fiscais.

"Como é possível que a UE e a OCDE sejam tão resistentes ao fim dos paraísos fiscais. É absolutamente inaceitável", considerou o magistrado.

Segundo Baltasar Garzón, a tolerância dos cidadãos para com crimes de corrupção e conexos diminuiu depois da recente crise económica que assolou a Europa, havendo mesmo uma manifesta indignação contra os corruptos, especialmente no sector público e político.

"A política e a justiça têm, cada uma, a sua responsabilidade no combate a este tipo de crimes. Combater a corrupção é a nossa obrigação", sustentou.

O italiano Antonio Di Pietro, por sua vez, apontou o terrorismo como um dos grandes perigos para a democracia liberal, dizendo que este fenómeno é actualmente difícil e controlar.

O antigo magistrado realçou a importância de uma informação livre e independente e transparente na denúncia de casos de corrupção e lembrou que, com a "operação mãos limpas" houve uma enorme esperança do povo italiano.

Di Pietro, que em 1998 fundou o partido de esquerda Itália dos Valores, defendeu a necessidade de uma maior cooperação judiciária entre Estados, sobretudo na Europa, designadamente entre procuradores do MP.