Morreu o neurocirurgião João Lobo Antunes, aos 72 anos, confirmou à agência Lusa o Ministério da Saúde. João Lobo Antunes era presidente da Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

O objecto de estudo de João Lobo Antunes foram, principalmente, o hipotálamo e a hipófise. Em 1982/83, foi o primeiro médico da História a implantar o olho electrónico num invisual. Desde então, esse implante já foi realizado em 15 pessoas, permitindo-lhes visualizar algumas formas e distinguir certas cores.

No último feriado do 25 de Abril, Lobo Antunes recebeu das mãos do Presidente da República a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Já antes, tinha recebido a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iágua de Espada.

Uma vida dedicada à neurocirurgia

João Lobo Antunes nasceu a 4 de Junho de 1944. Era irmão do escritor António Lobo Antunes.O seu pai, neurologista, colaborou de perto com Egas Moniz, personalidade que o influenciou desde novo. Um seu tio-avô é considerado o pai da neurocirurgia portuguesa.

Licenciou-se em Medicina na Universidade de Lisboa, em 1968, com uma média final de 19,47 valores. Três anos após terminar a licenciatura, obteve uma bolsa Fulbright e foi para os Estados Unidos, onde permaneceu entre 1971 e 1984. Trabalhou no Departamento de Neurocirurgia de Nova Iorque (Universidade de Columbia), tornando-se professor associado de Neurocirurgia.

Doutorou-se em Medicina, pela Universidade de Lisboa, em 1983. Um ano mais tarde, regressa a Portugal como professor catedrático de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Durante o ano de 1990, foi vice-presidente para a Europa do World Federation of Neurosurgical Societies. Em 1999, ocupou o cargo de presidente da Sociedade Europeia de Neurocirurgia e, em 2000, presidiu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.

Foi professor convidado da Universidade de Pequim (2001), membro do conselho editorial de diversas revistas científicas. Foi também membro da Academia Portuguesa de Medicina e de várias sociedades científicas europeias e norte-americanas.

"Sábio homem da ciência"

Durante 1996, Lobo Antunes foi presidente do Conselho Científico da Faculdade de Medicina de Lisboa. Naquele ano, foi a décima personalidade a receber o Prémio Pessoa.

Recebeu em 2003 a Medalha de Ouro de mérito do Ministério da Saúde e em 2013 o Prémio da Universidade de Lisboa. Em 2015, venceu o Prémio Nacional de Saúde por ser um "cirurgião reputado, sábio homem da ciência e eticista”.

É autor de mais de 150 trabalhos científicos e editou quatro livros. Publicou também quatro colectâneas de ensaios: "Um Modo de Ser" em 1996, "Numa cidade feliz" em 1999, "Memória de Nova Iorque e outros ensaios", em 2002 e "Sobre a mão e outros ensaios" em 2005.

Foi mandatário nacional das candidaturas de Jorge Sampaio (em 1996) e de Cavaco Silva (2006) à Presidência da República. Cavaco Silva nomeou-o para o Conselho de Estado.

Lobo Antunes dirigiu o Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria, foi presidente da Academia Portuguesa de Medicina e do Instituto de Medicina Molecular.