Passam os dias fechados em casa, no sofá, a ver televisão: os reformados portugueses estão cada vez mais sedentários. É uma das conclusões de um estudo de Maria João Valente Rosa, autora do livro "Os Reformados e os Tempos Livres", que é lançado esta quarta-feira.

A socióloga e directora da Pordata, base de dados sobre Portugal, comparou inquéritos de 2014 a reformados com mais de 65 anos com resultados obtidos em 1998.

A televisão é a actividade de lazer dominante (90%). Os reformados dedicam-lhe em média 21 horas por semana em 2014, contra 16 em 1998.

“Notámos pelos resultados que eles se fecham mais em casa e que dentro das actividades de lazer consideradas o leque é menos diverso. Há uma concentração em torno de uma actividade em particular: ver televisão”, diz a autora do estudo, feito a pedido da Fundação Inatel.

Em 2014, apenas 10% declararam ocupar os tempos livre em actividades de lazer fora de casa (em 1998 foram 17%). Por outro lado, aumentou de 53% em 1998 para 64% em 2014 a percentagem de pessoas que declararam passar o tempo de lazer exclusivamente em casa.

Os reformados não deixaram de sair de casa, mas agora fazem-no menos vezes e com objectivos definidos, concluiu a socióloga. “O que pode estar aqui em causa é que as pessoas hoje não saem tanto em busca de estar com os outros, mas com objectivos mais definidos. Ou seja: ir para o café para estar com os outros torna-se menos frequente.”

Sozinhos, mas não isolados

Ainda assim, esta não é uma geração alheada do que acontece no mundo. Maria João Valente Rosa admite que os reformados estão sozinhos, mas não isolados. “A sociedade mudou. Hoje, a casa não é um espaço fechado ao mundo”, diz a socióloga.

“Este estudo também nos diz que isolamento e solidão são palavras cada vez menos sinónimas. Posso estar isolado e não estar só, posso estar em relação muito forte com os outros através de uma tecla de comando à distância ou de uma tecla de computador pela internet. As distâncias físicas contam menos do que contavam no passado”, acrescenta.

O estudo conclui ainda que o local onde se vive já não condiciona as opções de lazer. “Em termos de opções pelas actividades de lazer, já não se fazem tanto em função se vivemos num espaço rural ou urbano, se vivemos numa cidade ou fora dela. E as diferenças que se notam em termos de comportamentos são cada vez mais marcadas pela instrução e pelo posicionamento sociocultural”, diz.

Segundo a socióloga, está em curso uma nova era, a dos “reformados idosos tecnológicos, audiovisuais e curiosos pelo saber”, que já não dependem da presença física dos outros para sobreviver socialmente.