Matar dois coelhos de uma cajadada só? Não, mais vale pregar dois pregos de uma martelada só. E pegar um touro pelos cornos? Nada disso. É melhor pegar uma flor pelos espinhos.

Quem não tem cão, caça com quê? Mais vale esquecer a caça. Quem tem medo, que se faça à vida porque com cão é que não. E quem tem um pássaro na mão, é melhor deixá-lo ir embora.

Vem isto a propósito do apoio do partido Pessoas, Animais e Natureza à substituição dos provérbios com animais por outros com o mesmo sentido que digam a mesma coisa, mas sem ofender os bichos.

A iniciativa original é da PETA, uma plataforma internacional que defende que "as palavras importam e, à medida que a nossa compreensão evolui, a nossa linguagem evolui com ela". Vai daí, os ativistas deste organismo decidiram pegar na formulação original dos provérbios e eliminar as alusões que sugiram maus tratos contra animais.

Em vez de "kill two birds with one stone" - matar dois pássaros com uma pedra, em português -, que tal "feed two birds with one scone" (dar dois scones a um pássaro)? Mas não dê muitos scones ao pássaro, que ainda lhe sobe o colesterol, dá-lhe uma coisa má e, em vez de morrer à pedrada, ainda lhe dá um colapso cardíaco.

Muitos destes ditados referem espécies distintas, mas querem dizer a mesma coisa: carapau de corrida é o mesmo que armado aos cágados, ou armado aos cucos. Armar-se em esperto, é o que é. E se for com os mais novos, já a formiga tem catarro.

Percorremos a lista das expressões do LuIz, um site que reúne de 300 provérbios e expressões que estamos habituados a ouvir por aí, e, com base nessa lista, decidimos calcular quantos ditados populares contêm animais em Portugal. Descobrimos que são bem mais do que aqueles que julgamos: mais de 40.

Um em cada quatro provérbios levam um burro. O burro entra em 12 dos mais de 40 ditados populares referentes a animais. É o burro 'a olhar para um palácio' (tal como o boi), 'a comer pão de ló', é 'três ao burro e o burro ao mesmo', é 'andar de burro' ou 'estar com o burro amarrado', que é o mesmo que dizer 'estar de trombas'.

Mas há mais provérbios, mais animais: 'estar às moscas', 'a cavalo dado não se olha o dente', 'dose de cavalo', 'cantar de galo', 'cada macaco no seu galho', 'lágrimas de crocodilo', 'cabecinha de atum', 'memória de peixe', 'águas de bacalhau' (bem a propósito para a quadra), 'lágrimas de crocodilo' ou, então 'levar uma lagosta'. Bem, isso é melhor não. Pode dar 'um bicho de sete cabeças'. E nós por cá gostamos pouco de confusões.