As sondagens acertaram e os brasileiros elegeram mesmo Jair Bolsonaro como Presidente, com uma margem de cerca de 10 pontos percentuais para o seu opositor, Fernando Haddad.

O eurodeputado socialista Francisco Assis testemunhou tudo isto de perto. O comentador da Renascença foi ao Brasil participar na reta final da campanha de Haddad e admite ter vivido um dos piores dias da sua vida política.

“Devo dizer-lhe que é dos dias mais tristes da minha vida política, não porque tenha qualquer relação direta, não sou brasileiro, mas porque assisti aqui ao vivo à eleição, à coroação democrática de uma figura sinistra que ao longo da vida sempre propalou valores anti-liberais, anti-democráticos, anti-humanistas”, afirma Francisco Assis, em entrevista à Renascença.

Ainda assim, o eurodeputado não ficou surpreendido com a vitória de Jair Bolsonaro.

“Esta vitória não é surpreendente. O que é surpreendente é que tenha chegado até aqui, todo o processo que conduziu a uma situação desta natureza e que um homem com estas características possa ser eleito presidente da República do Brasil. Haverá agora que refletir, a sociedade brasileira terá que refletir profundamente sobre tudo isto”, considera.

Francisco Assis diz-se “pessimista” em relação à atuação de Bolsonaro como Presidente do Brasil e teme que a sua eleição seja o início de uma fase negra na vida do país.

“Eu creio que há riscos reais para a democracia brasileira. Julgo que Jair Bolsonaro é um homem que, ao longo da sua vida, já deu suficientes provas de desprezo pelas regras democráticas para todos termos de ter receio do que possa vir a acontecer”, afirma o socialista.

Assis diz que verificou, após a divulgação dos resultados, que “várias pessoas estão com medo”. “Há de novo medo na sociedade brasileira. O que é extraordinariamente grave”, diz.

Agora, é altura de reorganizar forças. “Há um trabalho longo a fazer, da parte das forças de oposição democrática, que têm de se organizar e têm de saber resistir a esta fase, que estou convencido que será uma fase negra da vida brasileira”, afirma.

Houve uma "falha moral" na campanha

O eurodeputado considera que a eleição de Jair Bolsonaro é mais um passo de um fenómeno preocupante a acontecer no mundo. “Este crescimento expressivo da extrema direita no mundo é hoje a maior ameaça que se coloca às sociedades democráticas”, considera.

Assis aponta uma “falha moral”, durante a campanha política, a “algumas personalidades políticas, que tinham obrigação absoluta de estar com Haddad”.

“Neste momento a discussão era entre um candidato democrata, com quem podemos concordar ou discordar em muitos aspetos, de quem estamos mais ou menos próximos, mas que é um democrata, e um candidato de extrema-direita, que preconiza coisas absolutamente inadmissíveis”, afirma.

“Há uma ameaça à democracia brasileira. A simples circunstância de se eleger uma figura com estas características significa que o sistema democrático já perdeu alguma solidez e estou convencido que há de facto uma ameaça real à democracia no Brasil”.

Ainda assim, o socialista mostra alguma esperança e diz estar convencido que, no dia em que essa ameaça se materializar de forma mais vincada, a “sociedade brasileira reagirá”.