E depois de Mossul?


Apesar de o primeiro-ministro do Iraque ter anunciado a vitória militar em Mossul há já alguns dias, continuam a registar-se alguns confrontos na cidade do Iraque, com as Forças Armadas, apoiadas por alguns meios internacionais, a tentar eliminar algumas bolsas de resistentes do Estado Islâmico que permanecem na cidade velha.

Mossul esteve três anos na posse do Estado Islâmico e foi numa mesquita daquela cidade que foi proclamado o califado, alimentando as pretensões territoriais de um grupo terrorista que chegou a dominar um terço tanto do Iraque como da Síria.

Mas ao mesmo tempo que as Forças Armadas tentam eliminar a resistência que se mantém, aumentam as preocupações relativas a abusos humanitários. A Human Rights Watch acusa os soldados iraquianos de torturarem e executarem extrajudicialmente pessoas, incluindo o lançamento de homens de precipícios. Há muito tempo que existem suspeitas de que as forças militares e milícias xiitas que as apoiam têm abusado de civis, sobretudo sunitas, que suspeitam de terem pertencido ao Estado Islâmico ou de serem simpatizantes.

Oficiais iraquianos dizem que estas e outras alegações de abusos estão a ser investigados e que eventuais culpados seriam responsabilizados e o mais alto clérigo xiita do Iraque já pediu publicamente aos seus seguidores na região para evitarem este tipo de violência.

A Human Rights Watch critica também o facto de 170 famílias de membros do Estado Islâmico estarem a ser encaminhados para um “campo de reabilitação”. O Governo considera a medida necessária para dar o apoio psicológico necessário para eliminar as influências extremistas a que as pessoas tenham sido sujeitas, mas a Human Rights Watch desconfia do plano que classifica de “castigo colectivo”.

Esta sexta-feira foi também atingido um novo marco na já longa batalha para libertar Mossul, com o número de deslocados internos daquela cidade a ultrapassar a barreira do milhão.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações, um total de 1.048.044 pessoas, de 174.674 famílias, abandonaram a cidade, que se encontra em grande parte destruída, desde o início deste conflito. Deste número algumas já conseguiram regressar às suas casas, mas 825 mil, 137 mil famílias, continuam deslocadas.