Nasceu no México o primeiro bebé por fertilização “in vitro” fruto do material genético de três pessoas, revelou esta terça-feira a revista britânica da especialidade “New Scientist”.

A utilização do material genético de três pessoas para a reprodução só tem, actualmente, enquadramento legal no Reino Unido, desde Outubro de 2015. Uma equipa norte-americana a trabalhar no México aproveitou o facto de não existir legislação sobre a matéria nesse país, disse o chefe da equipa, John Zhang, à revista.

Segundo os cientistas, o objectivo deste procedimento é evitar a transmissão de determinadas doenças das mitocôndrias, as chamadas “baterias” das células herdadas apenas através da mãe. Um bebé nascido através deste procedimento tem, assim, duas “mães” e um pai genético.

O nascimento do rapaz, agora com cinco meses de idade, “é revolucionário”, de acordo com a equipa de investigadores.

A técnica controversa, que permite que os pais com mutações genéticas raras tenham bebés saudáveis, só foi legalmente aprovada no Reino Unido, segundo a revista. Mas, garante a “New Scientist”, o nascimento da criança, cujos pais, naturais da Jordânia, foram tratados por uma equipa norte-americana de embriologistas, deve traduzir-se num progresso em todo o mundo.

A mãe do bebé é portadora da síndrome de Leigh, uma doença que afecta o sistema nervoso em desenvolvimento. Os genes para a doença residem no ADN na mitocôndria, que é separada da maior parte do nosso ADN, alojado no núcleo de cada célula.

Cerca de um quarto de suas mitocôndrias têm a mutação responsável pela doença. A síndrome de Leigh foi responsável pelas mortes dos dois primeiros filhos da mulher. O casal procurou então a ajuda de John Zhang no Centro de Fertilidade New Hope, em Nova Iorque.

O método aprovado no Reino Unido, segundo explica a “New Scientist”, chama-se transferência pro-nuclear e envolve a fertilização do óvulo da mãe e de um óvulo dador com o esperma do pai. Antes de os óvulos fertilizados começarem a dividir em embriões, em estágio inicial, cada núcleo é removido. O núcleo do óvulo fertilizado do dador é descartado e substituído pelo do óvulo fecundado da mãe.

Mas esta técnica não era apropriada para o casal -- como muçulmanos, opunham-se à destruição de dois embriões. Então, Zhang experimentou uma abordagem diferente. Removeu-se o núcleo de um dos óvulos da mãe e inseriu-se num óvulo dador cujo núcleo tinha sido também removido. O óvulo resultante, com o ADN nuclear da mãe e o ADN mitocondrial de um dador, foi então fertilizado com o esperma do pai.

A equipa de Zhang usou esta abordagem para criar cinco embriões, dos quais apenas um se desenvolveu normalmente. Este embrião foi implantado na mãe e a criança nasceu nove meses depois. Nenhum método foi aprovado nos EUA, por isso Zhang escolheu ir para o México, onde diz que "não há regras".

A preocupação que subsiste é a segurança. Os últimos embriologistas que tentaram uma variação deste método quiseram criar o ADN do bebé através de três pessoas, na década de 1990, quando injectaram ADN mitocondrial de um dador no óvulo de outra mulher, juntamente com o esperma de seu parceiro. Alguns dos bebés passaram a desenvolver doenças genéticas, e a técnica foi proibida.