Três cidades francesas banhadas pelo Mediterrâneo já o fizeram e uma quarta, Le Touquet, na costa atlântica, planeia fazer o mesmo. Cannes, Villeneuve-Loubet e Sisco baniram o burkini, uma alternativa ao bikini que tapa o corpo da mulher, deixando apenas visíveis a cara, as mãos e os pés. Argumento: o burkini, que permite cumprir as regras do islão que pedem às mulheres contenção no vestuário, desafia as leis seculares da França.

A medida, tomada nos últimos dias por aquelas autarquias, já teve consequências práticas para pelo menos três mulheres, de 29, 32 e 57 anos – vão ter que pagar os 38 euros de multa previstos no decreto municipal de Cannes, noticia o jornal francês "Nice Matin".

Outras seis mulheres que tomavam banho "demasiado cobertas" receberam advertências, mas optaram por abandonar a praia ou mudar de traje, afirmou ao jornal o chefe da polícia municipal. Yves Daros garantiu que a medida tem o apoio da população.

As autoridades locais justificam a proibição do burkini com motivos de segurança, considerando que este tipo de fato de banho demonstra, de forma "ostensiva", a pertença ao islão, o que pode gerar distúrbios numa altura em que a França vive o medo da ameaça de grupos extremistas como o autoproclamado Estado Islâmico.

O presidente da Câmara de Villeneuve-Loubet, Lionnel Luca, vê no uso do burkini uma provocação ideológica. “Desde o ataque de Nice”, a 14 de Julho, que matou 130 pessoas, “a população está particularmente sensível”, disse Luca, que argumenta também que este fato de banho apresenta problemas de higiene e pode complicar salvamentos.

Símbolo de um projecto político "hostil" às mulheres

A proibição do burkini merece o apoio do Governo. “O burkini não é apenas uma nova linha de fatos de banho, é a versão de praia da burqa e tem a mesma lógica: esconder o corpo das mulheres para melhor as controlar”, disse a ministra dos Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol.

A governante socialista rejeita que as proibições sejam vistas no contexto da luta antiterrorista, mas defende que o burkini é um “símbolo de um projecto político que é hostil à diversidade e à emancipação das mulheres”.

O Colectivo contra a Islamofobia em França apresentou esta terça-feira uma queixa no Conselho de Estado contra a proibição do burkini, o mais importante tribunal administrativo francês. Para já, os tribunais têm validado as decisões das três cidades francesas.

O porta-voz do colectivo, Marwan Muhammad, disse que a medida restringe liberdades fundamentais e discrimina as mulheres muçulmanas. “Este Verão estamos a testemunhar uma islamofobia política histérica que põe cidadãos uns contra os outros”, afirmou.

No sábado, em Sisco, na Córsega, registaram-se conflitos entre famílias muçulmanas e um grupo de jovens depois de um turista ter tirado fotografias de mulheres a tomar banho de burkini. Na segunda-feira, o presidente da Câmara de Sisco baniu o burkini.

A polémica não é de agora. Em Março, em entrevista à rádio RMC, a ministra Laurence Rossignol criticou marcas como a Marks and Spencer, que colocou o burkini à venda em lojas ocidentais, depois de o fazer em mercados como o Dubai e a Líbia.

“É irresponsável da parte destas marcas”, disse. A Marks and Spencer reagiu, através de um porta-voz, sem fazer grandes comentários: “Vendemos este item há vários anos e é popular entre os nossos clientes internacionalmente.”

Laurence Rossignol comparou as mulheres a favor deste tipo de fato de banho a “negros que apoiam a escravatura”.