O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Manchete, defende que não faz sentido que “o nosso país projecte forças no terreno”, na luta contra o auto proclamado Estado Islâmico.

Em declarações à Renascença, Rui Machete lembra que Portugal já está a colaborar, dando formação às tropas iraquianas, com 30 militares destacados em Bagdade.

“É um esforço relativamente pequeno, mas nós somos um país que não tem capacidade, do ponto de vista militar, de deslocação de grandes forças e, portanto, não me parece que seja vantajoso para o país estar a projectar forças no terreno. É um teatro de operações que fica muito longe. O que nós podemos fazer bem, e já estamos a fazer, é a formação de tropas do exército iraquiano”, declara.

Para o antigo ministro, é importante pensar, a médio prazo, tendo em conta o clima de tensão vivido nesta região,“que quer a Rússia quer a Turquia têm interesses muito grandes no Mar Negro e no Mediterrâneo”, o mesmo acontecendo com o Iraque e, sobretudo, com a Síria. Face a este jogo de interesses, “tudo precisa de ser afinado”.

“É uma situação complexa e é bom que se converse e que estes países se possam entender. No fundo, para ver se se encontra uma solução aceitável para um governo transitório na Síria”, aponta.

Nesse sentido, Rui Machete defende que Bashar al-Assad não deve ficar definitivamente no comando do governo sírio “ou instalar-se como nada se tivesse passado”. Ainda assim, na busca por um acordo temporário, o líder sírio torna-se num elemento essencial.

“Ele cometeu, ou deixou cometer, crimes de guerra gravíssimos, mas para uma solução provisória, ele vai ser certamente também um actor indispensável. É necessário encontrar a distinção entre o momento provisório em que ele pode intervir e o momento em que deve substituído por alguém que seja relativamente simpático”, sentencia Rui Machete.