A Amnistia Internacional (AI) divulgou um plano para uma acção concertada em oito áreas destinado a responder às crises de refugiados e na sequência do que designa por "falhanço moral catastrófico" dos líderes mundiais.

Financiamento para responder à mais grave crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, garantia de alojamento digno, anúncio de rotas legais e seguras, assegurar o acesso ao território de um país aos refugiados que chegam às fronteiras, combate ao racismo, xenofobia e tráfico de pessoas e disponibilidade para a ratificação global da Convenção dos Refugiados são os oito pontos avançados pela organização.

Na apresentação do documento, que decorre nas vésperas de nova reunião "crucial" do Conselho Europeu (15 e 16 de Outubro) e da cimeira do G20, em Novembro, a ONG de defesa dos direitos humanos assinala que o "falhanço moral catastrófico" dos líderes mundiais, que continuam a divergir entre si enquanto milhões de pessoas se confrontam com condições humanitárias desastrosas, "vai definir o legado das futuras gerações".

A "violência horrífica" na Síria, Iraque e Afeganistão, os "múltiplos conflitos" na África subsaariana ou o prenúncio do reinício de vagas migratórias na Ásia do sudeste têm provocado, na perspectiva da AI, uma resposta "vergonhosa, em particular dos países mais ricos do mundo", que ignoraram os apelos para a ajuda humanitária e o acolhimento destas pessoas vulneráveis.

"As múltiplas crises, sem precedentes, de refugiados a nível global estão a deixar milhões de pessoas em desespero, mas a resposta dos países ricos é um falhanço catastrófico", considera, citado pelo documento, Salil Shetty, o secretário-geral da AI, e que também recorda que os refugiados "possuem um direito internacional para procurar e garantir o asilo".

19,5 milhões de refugiados

"Este é um momento crucial que vai definir o legado dos actuais líderes mundiais para as gerações vindouras - a história julgá-los-á duramente caso não mudem de rumo", acrescenta.

A ONG (Organização Não Governamental) indica que os designados países em desenvolvimento, em particular no Médio Oriente, África e Ásia, acolhem actualmente 86% do total dos 19,5 milhões de refugiados, e considera que os países ricos não estão a fazer o suficiente para partilhar este esforço.

"Por exemplo, até 2 de Outubro o apelo humanitário da ONU para os refugiados sírios apenas foi garantido em 46%, enquanto o apelo para os refugiados do Sudão do Sul apenas alcançou uns escassos 17% face ao seu objectivo. Isto está a provocar um impacto devastador no acesso dos refugiados a alimentos, medicamentos e outra assistência humanitária", precisa o documento.

"Quando os líderes do G20 se reunirem no próximo mês na Turquia, não devem deixar a sala até terem um plano concreto, com prazos definidos, para garantir um apoio humanitário sustentado às múltiplas crises de refugiados à escala mundial; menos que isso será um falhanço absoluto da liderança", considera ainda Salil Shetty, que também assinala um "falhanço moral da mais elevada ordem".

Assim, e após avaliar o comportamento dos líderes mundiais face às atuais crises de refugiados, a AI apela aos países ricos para que adoptem uma "acção concertada" em oito áreas prioritárias.