Olhamos o mundo segundo ideias feitas, arrumadas, estabilizadas. Aliás, grande parte da nossa aprendizagem é feita a partir dessas ideias que se vão encaixando e que nos vão dando segurança para passarmos para a fase seguinte: fazer e aprender mais.

O problema está quando não nos questionamos acerca dessas mesmas ideias, feitas de percepções cristalizadas que nos impedem de ver e fazer diferente, de olhar a realidade na sua permanente mudança, de conhecer o outro na sua especificidade. É confortável, sentimo-nos seguros.

O nosso quotidiano está cheio de histórias de equívocos e mal-entendidos que coartam a nossa liberdade, sem que de tal tenhamos consciência, que tornam invisíveis pessoas e problemas, que são fonte inesgotável de discriminação, exclusão e injustiça.

Podemos encontrar tantos exemplos quanto as estereotipias que construímos, os preconceitos que nos dominam e nos impedem não só de ver com olhar crítico como de actuar adequadamente. Dominam o cidadão individual na sua vida privada e pública, dominam o decisor político em tantas das opções que formula e põe em prática.

A educação, nas suas múltiplas formas, é um instrumento nuclear de reprodução ou de supressão de preconceitos e estereotipias. Cito a título de exemplo dois produtos recentes para crianças que perpetuam e/ou tentam combater estes modelos: uma produção franco-canadiana de desenhos animados “leap” que ao incentivar, e bem, as crianças a serem persistentes na luta pelos seus sonhos propõe que a menina seja bailarina e o rapaz inventor, reproduzindo os papéis expectáveis para cada um, não ousando propor o contrário; um livro de duas autoras italianas com histórias de embalar para “meninas rebeldes”, composto pelas histórias adaptadas de 100 mulheres, dos mais variados domínios profissionais, origens étnicas e geográficas, procurando pelas narrativas romper barreiras interditas de intervenção, mas esquecendo que os meninos também precisam de as ouvir contar.

Eliminar estereotipias, desconstruir preconceitos é essencial para que cada comunidade se abra e desenvolva de forma mais justa e inclusiva, para que cada um seja em liberdade o seu próprio autor.