No mês passado, visitei os meus filhos que vivem em Washington DC e tive oportunidade de acompanhar um pouco o trabalho escolar do meu neto mais velho. Tem oito anos e frequenta o segundo ano do ensino básico, na escola pública do seu bairro.

Tive, por isso, ocasião de ver em mais detalhe uma ficha de trabalho para casa. Uma folha A4, com letra gorda. Um texto de quatro linhas a descrever uma situação, uma informação genérica para o que era proposto (um facto é o que é, uma opinião é o que tu pensas), e o desafio: do texto que leste, escolhe três factos e dá três opiniões. Uma linha para cada. Ele escreveu três factos e três opiniões, um por linha.

Perguntei-lhe se fazia muitas fichas daquelas e se achava difícil. Disse que era normal ter fichas daquelas e que não achava difícil.

Devo confessar que fiquei encantada pela forma expedita como tantas competências são trabalhadas de forma simples, sistemática, não entediante, possível: a análise, a objectividade, o espírito crítico, a liberdade de expressão.

Quando cheguei, e porque os meus filhos há muito fizeram o segundo ano do ensino básico, tentei informar-me junto de quem tem filhos desta idade, na escola pública, se também faziam este tipo de trabalhos. A informação generalizada foi de que não.

Não pretendo com esta história concluir que o ensino deles é óptimo e o nosso não, mas simplesmente fazer uma reflexão acerca de métodos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento.

Cidadãos analíticos, reflexivos e sistemáticos, críticos e livres são o reflexo de uma longa preparação, que passa também pela escola. Escola que não complica nem complexifica desnecessariamente, antes escola que atrai, convida e motiva, escola leve, criativa, libertadora. Mas também que adestra na objectividade dos factos, e por isso mesmo consente e estimula a análise pessoal e a sua manifestação.

Temos todos, pais e escola, um longo e empenhado caminho a percorrer, mas se não o fizermos, faremos dos nossos filhos reféns de uma aprendizagem nem capacitante, nem libertadora.