Costuma dizer-se que é mau sinal quando os jornalistas, em vez de darem notícias, se tornam eles próprios motivo de notícia. Mas há circunstâncias em que isso se torna bom sinal. Foi o caso da realização do congresso deste grupo profissional, no início de 2017, que a actual direcção do Sindicato conseguiu realizar, quase duas décadas depois da edição anterior.

Foram dias de denúncia e análise da descaraterização e esvaziamento de tantas redacções, da emergência do ‘precariado’, das derivas ético-deontológicas, da crise de credibilidade e dos despedimentos colectivos. Mas foi sobretudo marcante o facto de os profissionais terem-se encontrado e escutado e aprovado uma série de compromissos que, quase um ano passado, parecem começar a dar frutos.

Neste último fim-de-semana prolongado, outro sinal começou a ganhar vida: perto de meia centena de profissionais e docentes de jornalismo estiveram a frequentar, em Lisboa, um encontro de formação sobre literacia mediática, o qual visa dar cumprimento a um dos compromissos, então assumido: propor ao Ministério da Educação a introdução dessa matéria na educação dos adolescentes. Um projecto foi elaborado pelo Sindicato, aprovado pelo ministro e apoiado pelo presidente da República. Sete escola-piloto avançarão com o projecto. A formação que agora decorreu destinou-se a preparar uma bolsa de jornalistas capazes de apoiar a preparação de professores, para que no próximo ano lectivo todos os agrupamentos de escolas sejam envolvidos. No próximo fim de semana iniciativa idêntica terá lugar para outros tantos profissionais da região Norte e Centro do país.

Tendo participado nesta dinâmica, aquilo que mais apreciei foi ver uma grande adesão de jornalistas a esta iniciativa - a ponto de sacrificarem dias de descanso ou de folga - e, de não menos significado, a disponibilidade e interesse em reflectir sobre a sua relação com os leitores, ouvintes e espectadores.

Estes jornalistas estão preocupados com a sua profissão e com o papel do jornalismo na sociedade. Em tempo de redes sociais e de "fake news", em que parece que tudo se equivale – a notícia e a opinião, o mexerico e o trabalho sério, a notícia falsa e a notícia ‘patrocinada’ – é salutar que esta preocupação seja partilhada e aprofundada com os professores (e, posteriormente, com os alunos). Mostra, além do mais, que há muitos jornalistas que ainda acreditam no jornalismo pautado pelos valores corporizados no seu código deontológico.