Para os três ou quatro portugueses que não estão a par dos acontecimentos recentes: num jogo contra o Barcelona, o Ronaldo foi expulso por acumulação e cartões amarelos. O avançado do Real não só discordou da decisão como empurrou o árbitro em gesto de desacordo.

A liga espanhola castigou Cristiano com cinco jogos de suspensão, o que por sua vez levou a um coro de contestação, com o próprio Ronaldo queixando-se de "injustiça" e "perseguição".

Não sou um especialista em futebol e no mau país de residência não se fala muito sobre futebol. No entanto, pelo que vou lendo fico com a ideia de que estamos perante um fenómeno mais geral: Ronaldo e os seus seguidores queixam-se de que o resto do mundo está contra CR7: não reconhecem o seu valor (especialmente quando comparado com Messi) e não perdem nenhuma oportunidade de o denegrir.

Há aqui um pouco de paranóia da parte do clube de fãs, mas há também um fundo de verdade neste complexo de perseguição.

Winston Churchill referiu-se a Clement Attlee, um dos seus adversários políticos, como "um homem modesto com muitos motivos para ser modesto".

Ronaldo tem muitos motivos para ser vaidoso — e é efectivamente sumamente vaidoso. Tem também muitas qualidades: por exemplo, contribui para iniciativas filantrópicas e por vezes ele próprio toma individualmente a iniciativa de ajudar gente mais necessitada. No entanto, nenhum destes gestos é suficiente para apagar a impressão causada pela imagem de arrogância projectada por CR7.

Neste contexto, não é de estranhar que um segmento importante do público procure qualquer oportunidade disponível par se "vingar", por assim dizer, duma pessoa e de um comportamento que consideram ofensivos.

Em resumo: ambos têm razão e ambos têm culpa. Ronaldo tem razão em queixar-se de um certo "schadenfreude" (alegria pelo dano alheio) da parte do mundo que não adora CR7, mas tem também a culpa de alimentar — abundantemente — esse sentimento. O mundo não-Ronaldo (e, acreditem, não é só o Barcelona) tem motivos suficientes para se desagradar com o comportamento do português, mas tem também a culpa de cair em atitudes e julgamentos injustos sob a influência (talvez inconsciente) da aversão à arrogância.