Na sexta-feira passada, a Universidade de Stanford e o mundo em geral perderam uma das melhores matemáticas: aos 40 anos, Maryam Mirzakhani sucumbiu a um cancro que a atacava desde 2014.

O nome não é conhecido. O maior prémio que recebeu, a medalha Fields, também não é conhecido (tanto assim que alguns se vêm obrigados a referir-se-lhe como o "Nobel da Matemática”). Os temas em que Mirzakhani trabalhou não são conhecidos (teoria de Teichmüller, geometria hiperbólica, teoria ergódica, geometria simplética; e concretamente a topologia e geometria da superfície de Riemann).

Porquê, então, escrever sobre Mirzakhani?

— Porque as áreas mais estranhas e esotéricas da Matemática frequentemente acabam por ser muito úteis nas mais variadas aplicações práticas. Quem sabe se os jogos de computador das próximas décadas não utilizarão resultados sobre geometria de Riemann devidos directa ou indiretamente a Mirzakhani?

— Porque Maryam Mirzakhani foi a primeira mulher e a primeira pessoa do Irão a vencer a medalha Fields, dois "primeiros" num só acontecimento.

— Finalmente, porque, apesar de reconhecer as diferenças entre os homens e as mulheres nas qualidades e aptidões para diversos campos do conhecimento, vivemos num mundo ainda cheio de preconceitos a este respeito; e um desses preconceitos é que as mulheres não são boas em Matemática.

O problema dos preconceitos sociais é que, apesar de serem apenas "teorias" (frequentemente "teorias" erradas), têm um efeito prático. E o efeito prático é o de desviar da Matemática uma abundância de talento promissor.

Oxalá haja mais Maryam Mirzakhanis no futuro.