Um dos principais efeitos de um jornalismo debilitado é um fluxo informativo mais pobre e mais dependente da lógica ‘ele-disse-isto-e-tu-o-que-dizes?’ do que de trabalho de verificação e enquadramento autónomos. No fundo, um sector dos média frágil pouco mais consegue do que dar ‘tempo de antena’ a vozes que se confrontam, deixando de lado (por falta de meios, desânimo ou cedência a interesses que ajudam a pagar contas) leituras mais largas e plurais da realidade.

O que, por estes dias, acontece em torno de uma decisão recente do ministério da Educação é um exemplo bem claro disto mesmo. Um número significativo de órgãos de informação nacionais optaram por ‘fazer render’ até à exaustão o filão informativo do protesto organizado de algumas empresas privadas que operam no sector ao mesmo tempo que se iam esquecendo de explicar aos leitores, ouvintes ou telespectadores o que está realmente em causa.

No barulho que se criou - e que deliberadamente se ampliou quando, por exemplo, se filmou, com óbvia combinação prévia, através de um drone, uma inscrição no pátio de um escola - muito facilmente se perdeu o contacto com a verdade e, sobretudo, com a missão essencial do jornalismo.

Foi muito difícil perceber (há, ainda assim, algumas excepções que nos vão ajudando), por entre tanta informação truncada ou ostensivamente falsa e por entre tanta opinião estridentemente apegada a uma ideologia radical de desmantelamento a qualquer preço da escola pública, que as empresas eventualmente afetadas pela tão polémica medida governamental são 80, num universo de 2773 (ou seja, 3 por cento das instituições privadas de Ensino).

Foi igualmente complicado perceber que os contratos de associação são, pela sua natureza, vínculos precários de prestação de serviço – são apenas uma das cinco formas de ligação do Estado ao Ensino Privado e servem para suprir uma dificuldade de serviço público momentânea (não são, por isso, contratos com base nos quais se possam, com honestidade, desenvolver quaisquer estratégias de equilíbrio financeiro de empresas privadas).

O jornalismo precisa, naturalmente, de dar expressão pública a vozes distintas mas não pode correr o risco de ser apenas a sua correia de transmissão. Sejam elas quais forem. O jornalismo deve, sobretudo nos dias que correm, assegurar-nos uma mediação relevante, confrontando declarações políticas com factos concretos e trabalhando de modo próprio para nos ‘mostrar’ a complexidade de cada situação, afastando-se, assim, da adesão a um registo que não faz parte da nossa tradição em tempo de democracia – o de uma ação direta panfletária a favor desta ou daquela ‘causas’.