Porquê esta situação e, em particular, porquê as dificuldades da política económica em lidar com ela?

O problema essencial vem da inflação que se originou no aumento dos preços da energia, depois agravado pelo aumento de preços de bens alimentares. A guerra da Ucrânia veio agravar a situação que, no início decorreu da recuperação muito forte que foi possibilitada pelo controlo da pandemia.

Sabemos pelo choque petrolífero de 1973 (que, a propósito, foi muito mais forte que o actual e que nos obrigou a racionamento da energia) que se cria inevitavelmente, durante algum tempo, uma situação de estagflação, ou seja de, simultaneamente estagnação económica e inflação. Agravada em 1973 pelo desequilíbrio das balanças de pagamentos dos países importadores de petróleo a que, em termos políticos, se sucedeu um aumento de poder na cena internacional dos países produtores de petróleo.

Hoje, passados cinquenta anos, a questão da balança de pagamentos não parece ter muita importância, pelo menos para já. Mas no resto, as consequências poderão ser semelhantes. Iremos ter o petróleo a preço alto até que haja alternativas energéticas, tal como surgiram de 1973 (embora diferentes das actuais). Mas, na verdade, petróleo a preço alto é necessário se queremos ter uma efectiva - e não apenas anunciada - substituição de combustíveis fósseis.

O problema mais complicado é o das taxas de juro. Elas continuam muito negativas em termos reais (ou seja, descontada a evolução dos preços) o que na zona euro constitui uma pressão permanente para a queda do valor do euro, que, sucedendo, irá agravar a inflação. Mas por outro lado, o alto nível de endividamento das famílias e empresas (que não existia com os valores actuais em 1973) é tal que qualquer aumento nominal das taxas de juro, mesmo com taxas de juro reais negativas, agrava os problemas de tesouraria das empresas e de solvência das famílias.

A forma como a política económica vai continuar a lidar com este dilema será sem dúvida um tema a acompanhar nos próximos tempos.