É cada vez mais difícil furar a névoa emocional, a nebulosa da paranóia e do medo que impede um debate racional. O país passou um dia inteiro no psicodrama "Ronaldo infetado com Covid". Dá vontade de rir? Dá vontade de chorar? Tal como Ibrahimovic, tal como qualquer atleta de alta competição, Ronaldo é o ser humano mais bem preparado à face da terra para enfrentar o vírus. O vírus, de resto, não é uma ameaça para a esmagadora maioria dos infetados, como se sabe.

Mas as pessoas não querem saber deste facto, as pessoas querem chorar, querem emocionar-se, querem drama e novela, querem partilhar no Facebook xaropadas como, ‘Mais um grande desafio para um grande guerreiro!’ ‘Força, estamos contigo!’

O psicodrama “Ronaldo infetado” criado pela paranóia Covid torna-se ainda mais ridículo quando percebemos que milhares de pequenos clubes dedicados às crianças e jovens estão em risco de fechar as portas devido precisamente à paranóia Covid.

O “Expresso”, no sábado, sublinhou este ponto fundamental. As regras anti-Covid estão a afastar milhares e milhares de jovens da formação. De Norte a Sul, milhares de pequenos clubes onde os miúdos fazem karaté, natação, ginástica, atletismo, futebol, andebol, hóquei, etc., já estão na fase do desespero. As inscrições estão a baixar. Boa parte dos miúdos não está a aparecer. Não há público. Não há competição. Não há patrocinadores. Isto não é um pormenor. A paranóia está a destruir o tecido mais simples e fundamental da orgânica da sociedade: o pequeno clube de bairro que se dedica às crianças, aos jovens e, já agora, aos velhotes.

Estamos literalmente a matar a sociedade com a cura; estamos a matar a própria ideia de sociedade, o bairro, e estamos a induzir doenças físicas e mentais nesta geração de jovens. Sem acesso ao desporto, o que está a acontecer a estes jovens? Estão a passar mais tempo à frente dos ecrãs (telemóveis, consolas), estão a fumar mais, a beber mais, estão mais próximos da depressão e da ansiedade, estão a engordar.

O retrato típico do óbito por Covid-19 é este: a pessoa não morre só por ação da Covid-19, ou seja, o vírus não cria a morte sozinho. A Covid-19 é o rastilho final de uma longa lista de problemas de saúde da pessoa em causa. E principal comorbidade associada à Covid é a obesidade. O que estamos a fazer com o cancelamento do desporto para jovens? Estamos a criar uma geração de corpos ainda mais obesos e, por isso, mais propícios a esta e a outras doenças.