É verdade que muitos autoproclamados líderes LGBT são arrogantes, assumindo a atitude de generais de uma vanguarda de costumes que rotula de “homofóbica” qualquer pessoa que ouse questionar a causa. É verdade que algumas instituições e partidos usam a agenda LGBT apenas e só para humilhar a igreja e os católicos – recorde-se o caso recente do cartaz do Bloco de Esquerda. É verdade que há argumentos válidos para recusar o casamento civil de gays e esses argumentos não revelam necessariamente homofobia. É verdade que um casamento gay na Igreja não faz sentido e defender isto não é homofobia. Mas nada disto justifica os casos de homofobia de muitos cristãos.

Ainda há dias um padre italiano afirmou que os sismos em Itália são uma resposta de Deus à legalização da sodomia. Mas qual é a parte do evangelho que este padre não compreendeu? Como é que o evangelho da misericórdia se reconcilia com esta visão vingativa de Deus? Esta declaração pode ser muita coisa, mas não é cristã.

Depois há o caso da psicóloga católica que defende uma ideia que ainda corre forte em certos sectores católicos: a homossexualidade é uma doença e, como tal, pode ser curada. É como se a homossexualidade fosse um erro técnico que pode ser corrigido para assim devolver aquele pobre coitado à normalidade. Lamento, mas a homossexualidade não é uma doença física ou mental.

Em paralelo, outros católicos acreditam ainda que a homossexualidade é uma escolha, logo um pecado consciente. Ou seja, assume-se que aquele homem escolheu ser gay como escolheu ser bombeiro ou médico; reforça-se este ponto com a ideia de que ele escolheu ser gay só para fazer pirraça à igreja, aos católicos, ao status quo, à normalidade, à natureza, à criação, etc. Neste ponto, diga-se que estes católicos se limitam a seguir a argumentação da esquerda politicamente correcta que tem dito que a sexualidade é uma mera construção social.

Nem católicos nem esquerdistas têm razão. O homem gay sente desejo por homens da mesma forma que eu sinto desejo por mulheres, é químico, é biológico, é carnal. A luxúria não se inventa por decreto.

A homossexualidade não é uma doença nem uma escolha, logo o católico deve aproximar-se do gay, até porque há imensos gays católicos que sofrem em silêncio. Esta é a minha posição como católico. Estou disponível para que me tentem convencer do contrário. Mas, mesmo que eu esteja errado, mesmo que a homossexualidade seja um pecado, o meu dever como católico não muda um milímetro.

Não veio Cristo à terra para estar junto dos pecadores? Não veio Cristo à terra para estar com prostitutas e cobradores de impostos? Não veio Cristo à terra para criticar os beatos (fariseus) que se julgam donos da moral e que passam a vida a destilar fel? Se partirmos da premissa (errada) da homossexualidade como escolha e pecado, então o dever da aproximação não desaparece. Pelo contrário, sai reforçado.

Nesse cenário, o dever do cristão passaria sempre pela aproximação e compreensão pelo alegado gay pecador, porque a misericórdia não pode ser apenas económica. A misericórdia não é apenas dar uma esmola ou fazer voluntariado com pobrezinhos. Tem de haver uma esmola moral, digamos assim; tem de haver misericórdia em relação às pessoas que têm um comportamento diferente do nosso. Isso é que é misericórdia.