Falar em subir despesas militares é desagradável. Mas não o fazer é irresponsável.

O fim da guerra fria, com o colapso do comunismo soviético, trouxe um clima de menos atenção à defesa na Europa. Só que esse clima também já passou, sobretudo desde a invasão russa da Ucrânia. E os sinais que nos chegam da Rússia não são propriamente pacíficos.

Os europeus vivem há décadas à sombra do guarda-chuva nuclear americano. É mais cómodo e sobretudo mais barato. Ora a possibilidade de os Estados Unidos se desinteressarem de manter a segurança da Europa devia acordar os europeus. Essa possibilidade tem um nome: Trump.

Infelizmente, ninguém pode garantir que Trump não vence a eleição presidencial de novembro próximo. E ele já várias vezes manifestou o seu fraco empenho na NATO.

O semanário britânico The Economist sintetiza a presente situação numa frase: “A Rússia está a tornar-se mais perigosa, a América é menos confiável e a Europa mantem-se impreparada”. Mas nos debates e nas campanhas partidárias com vista à eleição de 10 de março a defesa tem sido um tema ausente.

É verdade que na última década, desde a primeira invasão russa da Ucrânia (Crimeia), os gastos com a defesa dos países membros da NATO aumentaram. Há dez anos apenas três países atingiam 2% do respetivo PIB com despesas militares, agora já onze países o fazem. Mas uma Europa que não beneficie da proteção americana terá que gastar muito mais, se quiser conter o imperialismo russo. A Finlândia e a Suécia já deram o sinal de alarme, ao passarem de países neutros a membros da NATO.

Portugal não pode continuar a gastar em defesa apenas 1,5% do PIB. Até porque não consegue recrutar um número suficiente de soldados. As forças armadas têm sido esquecidas pelos políticos. Manter essa situação seria intolerável.