A ONU, a UE, o G7, etc. exigem que a Rússia leve à justiça os autores do envenenamento de Navalny, que felizmente já saiu do coma induzido. São declarações necessárias, mas toda a gente sabe que Putin não lhes dará a menor importância. Pois se até o Presidente dos EUA veio dizer não ter visto provas de envenenamento... É mais um caso que mostra como Trump sistematicamente se coloca numa posição favorável a Putin.

O governo alemão não tem dúvidas: Navalny foi mesmo envenenado com “novichok”, tal como, antes dele, foram envenenados vários outros russos. É uma tradição do KGB, agora com outro nome. E quem manda na Rússia é o ex-KGB, a começar por Putin.

Mas o governo alemão tem dúvidas quanto a aplicar uma sanção que realmente poderia abalar Putin: suspender o segundo gasoduto direto da Rússia para a Alemanha, através do mar do Norte. A construção deste gasoduto, “Nord Stream 2”, está quase concluída.

Vale a pena, porém, recuar um pouco no tempo, para perceber como as relações da Alemanha com a Rússia quanto ao abastecimento de gás natural têm ignorado aquilo que há décadas se procura construir, uma política energética europeia.

O antecessor de Angela Merkel como chanceler (primeiro-ministro), o social-democrata Gerhard Schroeder, acordou com Putin a construção de um primeiro gasoduto direto entre a Rússia e a Alemanha. Depois de Schroeder terminar o seu mandato, em 2005, tornou-se presidente da administração da empresa que iria construir o “Nord Stream 1”, que seria inaugurado em 2011. Dá que pensar.

Para a Alemanha receber gás diretamente da Rússia tinha, e tem, a vantagem de evitar os frequentes cortes, sobretudo na Ucrânia. Mas a decisão germânica, agora em princípio repetida com o “Nord Stream 2”, foi tomada sem atender aos interesses da UE e de alguns Estados-membros, como a Polónia, que se opõem ao gasoduto direto para território alemão. Este caso evidencia os limites do compromisso europeu da Alemanha.

Também os EUA são contrários a estes gasodutos, porque eles acentuam a dependência da Europa em relação à Rússia, que agora já fornece 40% do consumo de gás natural na UE. E os EUA querem exportar mais gás natural liquefeito para a Europa (através do porto de Sines, por exemplo). Mas na sua campanha eleitoral Trump não fala deste assunto e diz que o perigo é a China, não a Rússia.