Foi tornado público, esta semana, um relatório do Senado americano que culminou mais de três anos de investigação sobre alegadas interferências russas na campanha eleitoral nos EUA em 2016. O Senado, onde o partido republicano tem maioria, aprovou esse relatório, onde se diz que Paul Manafort, então director da campanha de Trump, teve contactos com um espião russo.

Embora não tenha detectado a existência de colaboração institucional entre a campanha de Trump e organizações russas, o relatório do comité de informações do Senado assegura que Paul Manafort colaborou com um agente secreto russo. Manafort forneceu-lhe informações sensíveis em troca de possíveis negócios com oligarcas russos e ucranianos. P. Manafort cumpre hoje pena, por fraude, numa prisão dos EUA.

Soube-se, também, que Steve Bannon, que sucedeu a P. Manafort na direção da campanha eleitoral de Trump em 2016, só não está preso, para já, por ter pago uma caução de 5 milhões de dólares. Steve Bannon é acusado, juntamente com três outros, de se ter apropriado de uma parte do dinheiro doado por particulares, através de “crowd-funding”, a uma campanha para financiar a construção do muro entre os EUA e o México, de maneira a travar a entrada de migrantes em território americano.

Steve Bannon não é um personagem qualquer. Não só contribuiu para eleger Trump, como permaneceu perto de um ano na Casa Branca como mentor e conselheiro do presidente. Em parte porque tinha uma má relação com a filha e o genro de Trump, Steve Bannon abandonou a Casa Branca ainda em 2017.

Nessa altura S. Bannon virou-se para a Europa, difundindo a sua ideologia de extrema-direita, hostil aos imigrantes e à integração europeia. Tentou, mesmo, criar em Itália uma universidade destinada a formar quadros qualificados imbuídos daquela ideologia. A tentativa falhou.

A grande aposta de S. Bannon era federar os partidos populistas, eurocéticos e de extrema-direita existentes na UE, provavelmente sob a liderança de Salvini. Mas aí também as coisas não lhe correram de feição. Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu esses partidos não tiveram a estrondosa vitória que pretendiam, para, nas suas próprias palavras, destruírem a UE “por dentro”. E Salvini deixou de ser o “patrão” do governo italiano, passando para a oposição e perdendo popularidade.

Steve Bannon tornou-se, assim, mais um ex-colaborador de Trump que se afasta do presidente, mas não da ideologia de extrema-direita. A confirmarem-se as acusações de que ele é agora alvo, trata-se também de mais um ex-colaborador de Trump que cai nas malhas da justiça americana por motivos criminais. Além de P. Manafort, recordem-se Roger Stone, confidente de Trump, Michael Cohen, ex-advogado do presidente, George Papadopulos, um antigo conselheiro da campanha eleitoral, Rick Gates, ex-vice diretor da campanha, Michael Flyin, ex-conselheiro de segurança do presidente, etc.

Vários antigos colaboradores de Trump viraram-se entretanto contra ele; e alguns até publicaram livros de memórias a dizer cobras e lagartos do presidente, que antes idolatravam. É um panorama lamentável.