Faz hoje três anos que deflagrou em Pedrógão Grande um enorme incêndio. 66 pessoas morreram queimadas, a maior parte das quais numa única estrada. No corrente mês de junho, as temperaturas não têm estado altas e choveu em várias zonas do território continental, o que terá atenuado o perigo de incêndio florestal. Mas ontem o Instituto do Mar e da Atmosfera colocou 12 concelhos em risco muito elevado de incêndio.

As autoridades nacionais garantem-nos que tudo está preparado para Portugal enfrentar, este ano, o flagelo dos incêndios florestais. Oxalá, mas infelizmente existem motivos para duvidar dessa perspectiva otimista.

A primeira dúvida tem a ver com uma longa nota do Observatório Técnico e Independente (OTI) da Assembleia da República. Este Observatório foi criado para analisar, acompanhar e avaliar o que é feito, ou não, em matéria de fogos florestais. Ora a referida nota é muito crítica sobre o que não se fez e deveria ter sido feito, concluindo que “não se pode ir adiando mais o inadiável”.

O OTI afirma que nestes três anos foram dados passos positivos, mas que são bem mais numerosos os aspetos negativos. Muito do que foi prometido acabou por não ter sido cumprido. E foram ignoradas várias recomendações feitas. Ou seja, um incêndio da trágica dimensão do de junho de 2017 pode voltar a acontecer.

O OTI identifica falhas, como o desadequado ordenamento e a deficiente gestão florestais, a insuficiente recuperação de áreas ardidas e a pouca mitigação do risco. Também considera insuficiente a formação e qualificação dos agentes do combate a incêndios.

O segundo motivo para recear os incêndios florestais no corrente ano está no que nos conta a excelente, mas deprimente, reportagem de dois jornalistas da Renascença, João Carlos Malta e Joana Bourgard, que poderá ler neste “site”. O título da reportagem é “A oportunidade perdida para o Interior”.

Há três anos, “Pedrógão e o Pinhal Interior eram proclamados prioridade nacional. Nada podia ficar como dantes, bradava-se em cada discurso público. Mas ficou. Há coisas que até conseguiram ficar pior”.

Por exemplo, e continuando a citar a reportagem da Renascença, “o primeiro-ministro, António Costa, prometeu que aquela região seria um exemplo para o país”. E acrescentou então: “A pior coisa que pode acontecer é a floresta crescer como estava, porque hoje todos sabemos bem que deixar a floresta crescer livremente é criar condições para que ela seja combustível”.

Ora, no terreno, Jorge Fernandes, presidente da APFLOR – associação que junta mais de 600 proprietários de terrenos florestais da região – vê uma outra realidade.

“Não houve mudanças estruturais, nem sequer conjunturais”, diz J. Fernandes. Especificou aos jornalistas da Renascença o presidente da APFLOR: “Neste momento, não posso dizer que tenha mudado grande coisa. Se mudou foi para pior, no sentido das infestantes, que se estão a desenvolver muito”.

Por outro lado, e a acrescentar a todas estas realidades negativas, estão as irregularidades na distribuição do dinheiro doado, em particular para a reconstrução de casas ardidas. O presidente da Câmara de Pedrógão Grande e outras personalidades vão a julgamento. Mas já em julho do ano passado o Tribunal de Contas criticara severamente o modo como os donativos foram distribuídos. Uma tristeza.