Desde há meses que raro terá sido o dia em que os “media” não falaram da limpeza das matas e dos meios de combate aos incêndios florestais. Compreende-se, dadas as tragédias de 2017. Por outro lado, começou a ser tema (já tardava!) a crescente desertificação de três quartos do território nacional. Mas pouco se tem falado do problema da água, exceto quando relacionado com a produção de eletricidade (as célebres “rendas”). Disse ao “Público” o presidente da Associação de Distribuição e Drenagem de Água, Rui Godinho: “Teremos carência de água para levar gente e indústrias para o interior. O interior pode ter tudo, até o IRC zero que o Governo agora propõe, mas sem água ninguém vai”. Aliás, um texto de Lurdes Ferreira no mesmo jornal tem como título: “Plano de barragens nunca deu prioridade ao abastecimento de água ao interior”.

Numa entrevista, conduzida por Lurdes Ferreira e Nuno Ribeiro e publicada na segunda-feira passada, são levantados por Rui Godinho vários problemas sobre a água que merecem atenção. Recordando o que se passou em Viseu, disse R. Godinho que nada está resolvido. Para armazenar água faltam barragens, como a do Alvito e a de Girabolhos. Por outro lado, revelou R. Godinho que dois terços das captações subterrâneas de água (os chamados “furos”) não estão legalizados, mas (acrescento eu) promovem um ilusório sentimento de segurança em matéria de abastecimento de água.

Depois, há problemas com Espanha. Quando se realizam reuniões oficiais entre os dois países multiplicam-se os abraços e as palavras tranquilizadoras. Mas os espanhóis praticam o facto consumado – aconteceu na central nuclear de Almaraz e na mina de urânio a céu aberto perto da fronteira portuguesa. Depois de feito o que eles querem, então promovem-se encontros e reuniões, que de pouco servem. Agora, segundo avisa R. Godinho, “Madrid não só autorizou (transvases) como tentou disfarçá-los; deu-lhes outro nome. Em vez de transvases chamou-lhes cessão de direitos”. Por outro lado, é má a qualidade da água em Espanha de rios como o Tejo. Godinho sugere colocar o problema dos rios que Portugal recebe de Espanha na Comissão Europeia.

O ano passado foi de seca grave. Mas as alterações climáticas fazem prever períodos de seca severa ao longo de todo este século. Por que razão não se lança uma campanha a sério de poupança de água? Talvez porque este ano choveu mais. O presidente da Associação de Distribuição e Drenagem de Água julga que não chegam apelos e medidas avulsas para poupar água – “tem de haver uma entidade que coordene o Programa de Uso Eficiente da Água, não só na sua aplicação e monitorização, mas também nos resultados”.

O facto é não existe na sociedade portuguesa nem nos governantes uma atitude determinada de poupança da água, que muitos encaram como se de um bem gratuito se tratasse. Ora, diz Rui Godinho que a água “é o bem tangível mais valioso da terra, mais do que os metais raros, o ouro, o petróleo”.