Quase meio ano depois das eleições de 23 de setembro de 2017, em Berlim haverá a partir de hoje um governo coligação. Mas as expectativas não são altas quanto ao quarto executivo chefiado por Merkel.

O peso político da chanceler baixou consideravelmente, o que a obrigou a concessões importantes ao parceiro de coligação – por exemplo, o novo ministro das Finanças é do SPD.

Mas é escasso o entusiasmo do SPD por, de novo, entrar no governo em coligação com os democratas-cristãos, um partido maior. É que nas coligações anteriores o SPD perdeu votos.

Do lado dos democratas-cristãos nota-se um crescente descontentamento com Merkel, sobretudo quanto ao problema de imigração. A CSU, democratas-cristãos da Baviera, tem-se mostrado particularmente crítica nessa matéria.

O SPD é um partido europeísta (o que já não é, por exemplo, o partido liberal, que abortou a primeira tentativa de coligação). Será, então, de esperar uma atitude mais positiva da Alemanha quanto à conclusão da união bancária e a propostas de reforma da zona euro, como as avançadas há meses pelo presidente de França, Macron? Provavelmente não tanto como se esperava.

A opinião pública alemã mantém-se hostil a coisas como um seguro comum de depósitos bancários na zona euro, mais dinheiro para um fundo dessa zona destinado a apoiar países em crise ou um ministro das Finanças europeu.

O principal partido de oposição no parlamento de Berlim é agora a alternativa para a Alemanha, uma força política que se tornou populista e é contrária ao euro, bem como à própria integração europeia. O que exige muito cuidado do novo governo quanto a concessões que levem os alemães a pensar que os seus parceiros na UE e na zona lhes querem tirar dinheiro – fortalecendo o apoio ao partido eurocético.

As recentes eleições em Itália também não ajudam. Recorde-se que o grande receio dos alemães quanto à troca do marco pelo euro, há vinte anos, se concentrava na indisciplina orçamental da Itália, que levaria à depreciação da moeda única.

Muitos alemães ainda hoje têm saudados do seu marco forte, com o Bundesbank a atacar com subidas de juros qualquer esboço de pressão inflacionista. E é possível que o sucessor de Draghi à frente do BCP, daqui a cerca de meio ano, seja um alemão, o governador do Bundesbank que nunca apreciou os estímulos monetários do BCE, que salvaram o euro.

Nem tudo será negativo, porém. O novo governo alemão promete investir mais em infraestruturas, que nos últimos anos se degradaram. O que ajudará os parceiros da Alemanha, como Portugal, a exportarem mais para aquele país.