A secular dependência do Estado que caracteriza a sociedade portuguesa tem levado, além do mais, a dar pouca importância ao que se passa nas empresas privadas. Falou-se e fala-se no défice das contas do Estado, que é um assunto sério. Mas nem todos repararam que a dívida das empresas privadas portuguesas era há pouco tempo a maior da Europa e superava mesmo a dívida pública nacional.

O endividamento das empresas acentuou-se nos primeiros anos deste século, com as taxas de juro baixas e as facilidades na concessão de crédito bancário (daí, em grande parte, o problema do crédito malparado que ainda hoje aflige a banca portuguesa).

Os números ontem divulgados pelo Banco de Portugal revelam uma evolução positiva nas empresas privadas não financeiras. Um terço do seu financiamento já é capital próprio, reduzindo a sua dependência do crédito. Pela primeira vez desde 2012, o capital próprio superou os empréstimos em 2016.

Não é uma melhoria extraordinária. Mas é um passo positivo, até porque o sector empresarial privado não financeiro melhorou a sua rendibilidade. E importa recordar que o saldo positivo das nossas contas externas se mantém (embora tenha diminuído um pouco em Janeiro-Setembro), o que tem muito a ver com o notável aumento das exportações e a conquista de quotas de mercado que numerosas empresas privadas conseguiram, contra ventos e marés, nos últimos anos.

Por outro lado, o maior peso dos capitais próprios sugere que terá abrandado a relutância de numerosos empresários a aceitarem sócios nas suas empresas, receando perder autonomia de gestão. O que também é de saudar.