Portugal deve a democracia às Forças Armadas (FA). Porque o 25 de Abril foi uma revolta militar e porque, passado algum tempo, os militares souberam subordinar-se ao poder político democrático. Não foi fácil, como ainda alguns se devem lembrar.

Afastados do poder político, os militares perderam algum peso na sociedade nacional. E a transformação de um exército para combater guerrilheiros numas forças modernas envolveu a sua profissionalização, acabando o serviço militar obrigatório. Creio, hoje, que foi pena. É também o que pensa o primeiro Presidente da República eleito em Portugal por sufrágio directo e universal, General Ramalho Eanes.

Salvo honrosas excepções, os nossos políticos fazem belos discursos sobre a importância vital das FA, mas raramente apresentam à opinião pública uma pedagogia eficaz sobre essa importância. E as FA contribuem, por vezes, para o seu próprio desprestígio.

É o que, infelizmente, está a acontecer agora com alguns casos. O alegado roubo de Tancos é o mais perturbador, claro. Não só porque roubar armas aos militares é grave, mas também - e sobretudo - porque a imagem que tem ressaltado deste “roubo” é a de uma gestão no mínimo negligente. E as explicações dadas até hoje pelas chefias militares têm sido por vezes patéticas.

Por outro lado, as suspeitas de corrupção em messes da Força Aérea já levaram à detenção de doze militares, incluindo um tenente-general. Há três dias titulava o Público: “Força Aérea sabia há anos que era roubada pelos militares, mas nada fez”.

Julgo que casos como estes devem fazer soar campainhas de alarme entre os militares responsáveis. O que passa não é bom para o prestígio das Forças Armadas.