Em 2008 Barack Obama foi eleito: era o primeiro presidente negro (mais precisamente, mulato) dos Estados Unidos. Excelente orador, capaz de mobilizar multidões, Obama suscitou então enormes expectativas. Seria impossível que todas elas se concretizassem. Mas era expectável que o legado deixado por Obama, após cumprir dois mandatos, fosse mais positivo. Embora saia da Casa Branca com uma popularidade superior à de Reagan no fim da presidência, predomina uma certa frustração entre os apoiantes de Obama.

Desde logo, ter como sucessor Trump não é bom sinal. Jogou aí uma reacção racista de parte da sociedade americana contra Obama. A feroz hostilidade de que ele foi alvo durante toda a sua presidência por parte do Partido Republicano, o apoio da Ku Klux Klan a Trump, a emergência de movimentos favoráveis à supremacia da raça branca nos EUA, tudo isso tem algo a ver com racismo. Ainda por cima, os afro-americanos não parecem ter lucrado grande coisa com a presidência de Obama. Por exemplo, multiplicaram-se as mortes de negros, muitos deles desarmados, atingidos por tiros de polícias americanos.

Sem experiência executiva

Obama teve grandes dificuldades em concretizar a sua principal iniciativa no plano interno, o “Obamacare”, que permitiu o acesso a seguros de saúde a cerca de 20 milhões de americanos.

O lançamento do “Obamacare” foi marcado por longas complicações informáticas, o que afectou a popularidade do programa. Por outro lado, uma vez apresentada a ideia, a sua elaboração em pormenor e a votação no Congresso não foram acompanhadas de perto pelo Presidente.

É que Obama nunca havia exercido um cargo executivo. Tinha sido senador, estadual (Illinois) e federal e, antes disso, professor de direito em Chicago. A falta de experiência na gestão de uma grande máquina humana pesou no desempenho de Obama como Presidente. Tinha boas ideias, mas empenhava-se pouco em concretizá-las.

É certo que, tendo tomado posse no início de 2009, em plena crise da dívida hipotecária (subprime), a administração Obama soube dar uma resposta rápida e positiva à crise. Um pacote financeiro de 800 mil milhões de dólares capitalizou bancos e estimulou a economia; por exemplo, salvou a General Motors, impondo condições para reestruturar a empresa. Hoje o crescimento económico americano anda pelos 3%, o desemprego baixou muito e os salários subiram, após uma longa estagnação.

Ao invés, Obama tentou, mas não conseguiu limitar a venda de armas nos EUA, apesar da sucessão de mortíferos tiroteios em vários locais, nomeadamente escolas.

Um vazio no Médio Oriente

É no plano externo que a acção de Obama suscita mais críticas. Teve sucessos, como a eliminação de Bin Laden, o acordo nuclear com o Irão, ou o reatar as relações diplomáticas com Cuba (mas não o fim do estúpido embargo). Mas, contra o que prometera, não fechou a base de Guantanamo, em Cuba. E deixou um vazio no Médio Oriente, que Putin aproveitou para relançar a Rússia na cena internacional, marginalizando os EUA. A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Obama em 2009 foi manifestamente prematura.

Obama avisou Assad que não admitiria o uso de armas químicas; o ditador sírio usou-as mesmo e os EUA olharam para o lado. Washington perdeu credibilidade. Depois de terem corrido mal a invasão do Iraque (contra a qual Obama havia votado, quando senador) e a guerra no Afeganistão, acentuou-se nos EUA o isolacionismo. De que Trump é um expoente, mas cujas raízes recentes estão na presidência de Obama.