O Papa considera que há um problema de cultura e de formação entre os católicos portugueses e avisou para os riscos do clericalismo que considera mesmo que pode ser uma “peste na Igreja”. Francisco falava a bordo do voo que o levou de volta a Roma, depois de uma visita apostólica de quase 24 horas a Portugal.

Questionado sobre o facto de Portugal ser um país de maioria católica, mas que aprova a legalização do aborto e tem em curso um processo legislativo sobre eutanásia, Francisco respondeu que esse é um problema político, mas também de formação.

“Mostra que também a consciência católica não é uma consciência de pertença total à Igreja. Revela que, por detrás disso, não há uma catequese humana. O catecismo da Igreja Católica é o exemplo do que é uma coisa séria e estruturada. Falta formação e também cultura: são muito católicos, mas são anticlericais e mata-frade. Este é um fenómeno que me preocupa. Por isso, digo aos sacerdotes que fujam do clericalismo, porque o clericalismo afasta as pessoas e, até acrescento, é uma peste na Igreja”, disse o Papa, que respondeu a perguntas de vários jornalistas.

A Renascença questionou Francisco sobre o significado da referência ao “bispo vestido de branco", na oração que fez na sexta-feira, na Capelinha das Aparições. O Papa assumiu que a oração tinha sido preparada pelo Santuário de Fátima, mas relacionou a referência com o desejo de paz.

“Há uma ligação à volta do branco: o bispo de branco, a Senhora de branco, a alvura branca da inocência das crianças, depois do baptismo; há toda uma ligação que também se exprime literariamente, através do branco, aquele desejo de inocência, de paz, de não fazer mal aos outros, nem fazer guerra, o que é o mesmo”, respondeu Francisco, que salientou que a mensagem de Fátima é, sobretudo, uma mensagem de paz, que se compromete levar onde quer que vá.

Falar de paz com Trump

“Fátima tem certamente uma mensagem de paz, transmitida à humanidade por três grandes comunicadores, que tinha menos de 13 anos. Vim como peregrino, sim. O que pode esperar o mundo? A paz. Sobre o que vou falar com quem me encontrar? De paz”, disse o Papa que tem encontro marcado com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump para este mês e também falou já sobre esse encontro.

“Nunca faço um juízo sobre uma pessoa sem a ouvir. É da nossa conversa que sairá alguma coisa. Eu direi o que penso e ele dirá o que pensa há sempre portas que não estão fechadas, é sempre passo a passo. A paz é artesanal, faz-se todos os dias”, antecipou o Papa Francisco sobre o encontro com o Presidente americano.

No vôo, Francisco também foi questionado sobre as alegadas aparições de Medjugorie, no Sul da Bósnia, ainda não validadas pelo Papa. Francisco manifestou as suas reservas.

“Devem-se distinguir três coisas. As primeiras aparições a crianças devem continuar a ser investigadas. Depois, as presumíveis aparições actuais, pessoalmente prefiro uma Nossa Senhora Mãe e não uma ‘Nossa Senhora-chefe dos correios’ que todos os dias entrega uma mensagem à hora certa. Esta não é a Mãe de Jesus, estas presumíveis aparições não têm tanto valor.

Digo-o como opinião pessoal. Em terceiro lugar, é um facto pastoral que há gente que vai lá e se converte, gente que encontra Deus, que muda de vida, mas para isso não há ali uma varinha mágica e este facto pastoral e espiritual não se pode nega”, disse o Papa, que neste sábado assinalou 25 anos que soube que tinha sido nomeado bispo.

Francisco contou que se lembrou desse aniversário na noite de sexta-feira, diante da imagem de Nossa Senhora.

“Falei com Nossa Senhora sobre isto, falei-lhe de todos os meus erros e também dos erros na escolha de pessoas”, contou.


A Renascença acompanha a viagem do Papa Francisco. Apoio Santa Casa da Misericórdia de Lisboa