Com Mário Centeno na presidência do Eurogrupo haverá menos austeridade, afirma Margarida Marques, ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus, em declarações ao programa Em Nome da Lei da Renascença.

A deputada socialista acredita que pode haver maior flexibilidade, por exemplo, nas metas da dívida pública e aponta o primeiro grande desafio de Centeno.

“Eu acho que pode ser na dívida. Já é evidente que há flexibilidade na interpretação dos 60% da dívida. O que eu penso que é o próximo passo é, em primeiro lugar, avaliar o ‘fiscal compact’ [Pacto Fiscal Europeu] antes de o integrar nos tratados e na lei da União Europeia, é preciso ver qual foi o impacto nas economias europeias, nos cidadãos europeus e ver como é que é possível, ao fim deste tempo, adaptar o ‘fiscal compact’. Do meu ponto de vista, isso é o primeiro desafio para Mário Centeno.”

Opinião diametralmente oposta têm os dois partidos que apoiam o Governo de António Costa. O eurodeputado comunista João Ferreira diz que Mário Centeno não terá margem para qualquer flexibilização, porque não é quem preside ao Eurogrupo que define as regras.

“Nos vários cenários que foram apontados para o futuro da União Económica e Monetária, e já nas propostas que esta semana conhecemos, não está em cima da mesa nenhum tipo de flexibilização das regras da Zona Euro”, frisa João Ferreira no Em Nome da Lei da Renascença.

Também a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias não acredita em novas políticas. Haverá, quanto muito, uma mudança de estilo. O Eurogrupo, afirma, continuará a ser o que é: “um órgão que não tem nenhuma legitimidade formal ou democrática”.

A eurodeputada bloquista teme que, com Mário Centeno a dirigir as reuniões dos ministros da moeda única, haja mais Eurogrupo no Governo do que governo no Eurogrupo.

“Cristiano Ronaldo das cativações”

À direita do PS, a opinião é também que o ministro português das Finanças, que o seu colega alemão um dia apelidou de Cristiano Ronaldo do Ecofin, conseguiu o lugar por ter seguido a trajectória de cumprimento das regras do défice iniciada por Passos Coelho.

O eurodeputado social-democrata José Manuel Fernandes diz que Mário Centeno é o “Cristiano Ronaldo das cativações”.

“Mário Centeno é um ortodoxo nos fins, ainda que nos meios não a mesma atitude. Ele também tem mérito, mas quem reduziu o défice de 11,2% para cerca de 3% foi o anterior Governo, quem deixou uma economia a crescer e fez reformas foi o anterior Governo”, argumenta José Manuel Fernandes.

O ex-eurodeputado e dirigente centrista Diogo Feio defende que Centeno foi e continuará a ser o rosto da austeridade imposta por Bruxelas.

Diogo Feio diz que a eleição de Mário Centeno só foi possível porque teve o apoio da França e da chanceler alemã, Angela Merkel, a quem o PCP e o Bloco de Esquerda têm atribuído o odioso das políticas de austeridade impostas a Portugal.