António Pires de Lima, o ministro da Economia do anterior Governo, está "muito satisfeito" com a evolução da economia portuguesa e com a notícia da saída de Portugal do procedimento por défice excessivo.

"Todos nos devemos alegrar pelo facto de a economia portuguesa estar a crescer a um ritmo que é, neste momento, apreciável", diz o antigo ministro, em entrevista à Renascença.

Pires de Lima sublinha a existência de "uma linha de continuidade "de políticas, com o país centrado em cumprir os seus objectivos macroeconómicos e de redução de dívida", pelo que os mais recentes êxitos são "consequência do trabalho, não só deste Governo, mas também do Governo anterior".

Sublinhando que "o algodão não engana: nas empresas e também na economia", Pires de Lima sugere que o caminho seja feito com base "em três motores", que são "a exportação, o investimento e o consumo", e diz não ter "dados que permitam alimentar optimismos de crescimento acima de 3%".

Como encara os dados económicos mais recentes e os sinais dados pela economia Portuguesa?

Os sinais são positivos e acho que todos nos devemos alegrar pelo facto de a economia portuguesa estar a crescer a um ritmo que é, neste momento, apreciável, dando continuidade ao processo de retoma que se iniciou, verdadeiramente, em 2014. Em 2016 os sinais foram mais vistos, nomeadamente durante o primeiro semestre, mas, a partir do segundo semestre, creio que entrámos numa trajectória de crescimento que será tanto mais sustentável quanto estiver sustentada em três motores: a exportação, o investimento e o consumo.

Em 2016, o crescimento esteve mais centrado na exportação e no consumo. Ainda não sabemos os detalhes da composição da variação do produto da decomposição do crescimento entre exportação, investimento e consumo nos primeiros meses deste ano, mas, se se confirmar que este crescimento de 2,8% tem também um contributo forte por parte do investimento, isso são boas notícias e tornam estes dados mais sustentáveis.

Recentemente, na Croácia, o Presidente da República disse acreditar num crescimento de 3,2% a breve prazo. Partilha deste optimismo?

Não tenho dados que permitam alimentar optimismos de crescimento acima de 3%. Reconheço que o crescimento deu um salto importante no último trimestre do ano passado e também no primeiro trimestre deste ano, que está muito sustentado na competitividade das empresas, na evolução das exportações, tanto na área dos serviços, do turismo, como também em produtos que já estavam a fazer o seu trajecto de uma forma muito positiva em 2013 e 2014.

Há uma linha de continuidade reforçada nestes três motores que eu gostaria de realçar. De todas as formas, precisamos de continuar a ter os pés bem assentes na terra, perceber que o desemprego ainda é alto, que estes dados de crescimento mais forte são relativamente novos na economia portuguesa e que continuamos a ter um nível de dívida muito alto.

Em qualquer caso, os dados são positivos e eu percebo o optimismo. Eu próprio estou muito satisfeito pelo facto de a economia portuguesa estar a ter esta evolução positiva.

A saída de Portugal do procedimento por défice excessivo será um contributo para reforçar o investimento necessário para garantir um crescimento cada vez mais sustentado em Portugal?

É, obviamente, uma boa notícia que estejamos agora a sair do procedimento por défice excessivo e que se olhe para Portugal, por parte de todos os agentes económicos, nomeadamente dos que aqui querem investir, como um país normal, um país que está concentrado na resolução dos seus problemas económicos, na redução do seu défice, na diminuição da dívida. O algodão não engana: nas empresas e também na economia. É importante que este movimento de crescimento e de redução de défice seja acompanhado, mais cedo do que tarde, também por uma redução da dívida.

É consequência do trabalho não só deste Governo, mas também do Governo anterior. Volto a salientar que esta continuidade de políticas, com o país centrado em cumprir os seus objectivos macroeconómicos e de redução de dívida, mais do que questionar a sua presença na Europa, é seguramente, um factor que dá credibilidade a Portugal.

Para reduzir a dívida acha possível renegociar com os credores? O que é que é necessário fazer?

Creio que uma trajectória de crescimento económico como aquela que estamos a seguir, com saldos primários positivos, dá outras condições para que a própria dívida vá sendo renegociada com condições melhoradas. Há um plano para abatermos partes da dívida que são mais caras neste momento, como é o caso das tranches relativas aos empréstimos ao FMI, mas creio que, fundamentalmente, um país que cresce é um país que pode resolver de forma melhor e mais adequada os seus compromissos internacionais. Atrai mais investimento e cria um ciclo virtuoso que se alimenta a si próprio, baseado no crescimento, na competitividade e no investimento, e que, naturalmente, há-de traduzir-se também na redução da nossa dívida pública.