O responsável pelo cenário macroeconómico do PS, Mário Centeno, afasta a possibilidade de um novo resgate financeiro a Portugal por causa das medidas constantes no acordo assinado entre os partidos de esquerda.

“Por causa das politicas que estão neste documento” não vai haver novo resgate, garantiu em entrevista à RTP3, em resposta a avisos lançados pela actual ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.

O deputado socialista, apontado como futuro responsável pela pasta das Finanças, assegura que, “definitivamente”, Portugal não vai seguir a trajectória da Grécia” se o Presidente da República convidar o PS a formar Governo, com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes.

Romper com a austeridade e cumprir as regras

Mário Centeno defende um virar de página e uma “ruptura com esta visão de austeridade, mas dentro do Tratado Orçamental” e garante que não se trata de uma “quadratura do círculo”.

O economista defende que o “Estado tem que fazer um esforço para ser agente de mudança em Portugal”, cumprindo os défices e, simultaneamente, estimulando a economia e combatendo a pobreza e as desigualdades sociais agravadas nos últimos anos.

Nesse sentido, o acordo das esquerdas contém medidas para estimular a economia, como a redução mais rápida da sobretaxa de IRS, a baixa da TSU para trabalhadores com salários mais baixos e um crédito fiscal para trabalhadores pobres, que Mário Centeno classifica de “um novo escalão de IRS”.

Questionado como é que o défice vai baixar com uma quebra de receitas por causa das medidas, o responsável pelo cenário macroeconómico socialista argumenta que estes estímulos vão ter um efeito positivo na “economia, no consumo, nas empresas, no emprego, na capacidade que o país tenha de produzir e responder a essa procura”.

“Esta aceleração do desfazer do virar da página da austeridade é feita de forma controlada, atacando os maiores obstáculos ao crescimento de um país de forma sustentável”, sublinha.

Qual a "grande prioridade" de Governo PS?

Mário Centeno considera que a criação de emprego é a “grande prioridade” do PS, que para isso pretende avançar com medidas fiscais, essencialmente, destinadas às pequenas e médias empresas.

Se for Governo, o PS vai estudar uma alteração dos escalões de IRS. Mário Centeno não quer “quer aumentar a carga fiscal ao conjunto das famílias portuguesas”, mas admite que “se fizermos numa distribuição isso poderia acontecer. A fiscalidade em Portugal esta muito elevada para quem vive dos rendimentos do trabalho”.

A reversão das privatizações e subconcessões dos transportes públicos de Lisboa e Porto e da TAP está inscrita no programa de Governo do PS, apoiado pelos restantes partidos de esquerda, mas os “danos patrimoniais e orçamentais para o Estado serão sempre avaliados” antes de ser tomada uma decisão.

O deputado socialista mostra-se preocupado com a situação do Novo Banco, numa altura em que estão quase a ser conhecidos os resultados dos testes de stress que podem obrigar a um aumento de capital.

Questionado se está disponível para ser ministro das Finanças de António Costa, Mário Centeno afirma que neste momento está disponível e "livre" para desempenhar o cargo.