Ricardo Araújo Pereira e Joana Marques debatem o lugar do humor na sociedade, neste primeiro Da Capa à Contracapa do ano, programa da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Ao longo dos tempos, muitos autores associaram a inteligência ao sentido de humor, a capacidade de nos rirmos de nós próprios à nobreza de carácter ou a capacidade de rir da desgraça quase uma virtude.

Em tempo de populismo e de crises várias, do clima às migrações, da guerra à corrupção e de injustiças intermináveis, esta primeira emissão do ano do Da Capa à Contracapa vai tentar perceber se se mantém verdade o que disse um dia Charlie Chaplin: o humor alivia-nos das vicissitudes da vida, ativa o nosso sentido de proporção das coisas e revela-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo.

O humor tem limites? Pode o humor converter-nos? E salvar-nos?

Miguel Esteves Cardoso escreveu um dia que o humor “é um sentido como o olfato. Assim como quase tudo tem um cheiro, quase tudo tem a sua graça. Mesmo as maiores desgraças. Pode dizer-se que a graça que elas têm é cruel ou de mau gosto ou – pior ainda – que não têm piada nenhuma. Mas não há desgraça que não tenha a sua graça”.

Será isso possível quando recordamos o ataque ao jornal satírico “Charlie Hebdo” ou os recentes cocktails Molotov atirados à sede da Porta dos Fundos?

Santo Agostinho falava da alegria e do riso como elementos facilitadores do ensino da religião cristã. Sobre a Bíblia e o seu humor, lembra-nos Tolentino Mendonça num texto sobre a Alegria: “olhemos para a Bíblia e divirtamo-nos com a sua leitura, sentindo como a Alegria é um lugar da revelação de Deus. É impossível avizinhar-se de Deus, sem perceber essa dimensão necessária. Encontramos na Bíblia páginas cheias de alegria”.

A verdade é que não é fácil fazer nem falar sobre humor. Afinal a alegria, como dizia Almada Negreiros, é a coisa mais séria do mundo. E o humor pode ser também como a razão a enlouquecer, dizia Groucho Marx.

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