Pela primeira vez, confrontei-me com a realidade dos bairros de barracas de Nairobi, com a sua esmagadora dimensão, onde a pobreza extrema coabita com a violência e a promiscuidade, onde o esgoto e os lamaçais, as crianças e as lixeiras assumem uma normalidade perturbadora.

“É uma grande dor e ninguém repara”, desabafou o Papa. Alguns dias depois, aconteceu o mesmo em Bangui, quando visitou o único hospital pediátrico da República Centro-africana. “Ali, falta-lhes tudo, não há garrafas de oxigénio e são tantas as crianças malnutridas, que as crianças acabarão por morrer, porque não têm resistências”, comentou Francisco.

“Se a humanidade não muda, continuarão as misérias, as tragédias, as guerras, as injustiças. Esta é a verdade e, sem enfrentar a verdade, as coisas não mudam.” E foi isso mesmo que o Papa fez: saiu do seu conforto quotidiano e chamou a atenção do mundo para a África, levando-lhes o amor e a humanidade de Cristo, lá mesmo, onde vivem e sofrem. E ao abrir a primeira porta santa do jubileu da misericórdia na catedral de Bangui - e não na Basílica de São Pedro, como sempre se fez ao longo dos séculos -, Francisco mergulhou numa das mais duras realidades do mundo e falou da urgência da conversão.

Ao proclamar Bangui a “capital espiritual do mundo”, o Papa está a convidar cada um de nós a enfrentar a verdade e a reparar no que se passa à nossa volta. Ou seja, a tomar a sério as exigências de perdão e misericórdia pelas quais o nosso coração e o coração de cada um tanto anseiam.