Se não tivesse sido eleito Papa, Bergoglio viveria agora numa residência para sacerdotes idosos, em Buenos Aires. Hoje, ao completar 80 anos de idade – e quase quatro anos depois da sua eleição para a Sé de Pedro – Francisco está outro homem. Garantem os que o conhecem que, em vez do habitual semblante sisudo e reservado, Bergoglio é agora extrovertido, sorridente como nunca foi e quase hiper-activo. Um Bergoglio “de vento em popa” e imparável no seu zelo de pastor universal.

Desde que é Papa, já realizou dezasseis viagens pastorais fora de Itália – seis delas, num único ano, como aconteceu em 2016: Cuba (para o encontro histórico com o Patriarca de Moscovo) e México; Campo de refugiados na Ilha de Lesbos, na Grécia; Arménia; Polónia (e o impressionante silêncio de Auchwitz); Geórgia e Azerbaijão e Suécia. Um record de viagens que não dá tréguas aos jornalistas que o seguem, não só por causa da sua agenda intensa de encontros e celebrações, mas ainda pelos seus constantes imprevistos, cujo ritmo só é comparável aos tempos em que João Paulo II tinha 60 anos.

Entre tantos aspectos possíveis de sublinhar neste dia de aniversário do Papa Francisco, talvez o mais inédito seja mesmo o seu estilo de ser Papa, com os seus detalhes pessoais, tão marcadamente humanos, “para o bem e para o mal”, como ele próprio o diz. É o primeiro Papa da história que, publicamente se ajoelha para se confessar e, quase obsessivamente, pede que rezem por ele. Um Sucessor de Pedro que, sempre que pode, sai do Vaticano ao encontro dos mais frágeis e esquecidos da vida, detendo-se ternamente junto de cada um dos que mais sofrem, com gestos de misteriosa beleza.

É que, desde sempre - quando nem sonhava vir a ser Papa - Bergoglio já manifestava preferência pelas periferias existenciais, pois via nelas as chagas de Cristo. Só que, agora, a preferência de Francisco assume uma escala planetária. Sinal disto foi a sua decisão de abrir a Porta Santa da Misericórdia na capital de Bangui, atitude que deu o mote para o tom deste Jubileu que terminou no mês passado, qual aguilhão para despertar os mais distraídos e indiferentes e para renovar a própria Igreja, cuja rotina e peso das estruturas, se não mudar, pode ser fatal à vida da fé.

De carácter forte e personalidade vincada, o Papa Francisco tenta imprimir uma passada que nem sempre a Igreja consegue acompanhar. Algumas das suas preferências e opções - sobretudo relacionadas com o acesso aos sacramentos por parte dos divorciados recasados - têm gerado ambiguidade e, por isso, algumas divisões e críticas no seio da própria Igreja e seus pastores. Mas Francisco prossegue o seu caminho, certo da sua tarefa que - segundo referiu numa recente entrevista - durará até que Deus queira.