Foram 542 os novos professores que ingressaram em 2019 na carreira docente. Ao longo da legislatura, foram cerca de oito mil. Muito se deveu esta ida para o quadro do Ministério da Educação à chamada “norma-travão”, imposta pela Comissão Europeia para impedir a utilização abusiva dos contratos a prazo. A maioria dos professores tem 15 anos de precariedade; Leonor quase 30. A maioria terá 40 anos; Leonor, 64. Deixou, finalmente, os contratos, feitos sempre a termo certo, as trocas de escola, ano sim ano sim, um salário que rondava os mil euros, isto quando se consegue um horário completo, deixou a insegurança que tudo isso traz. "Pensei desistir, pensei. Tem-se uma vida desgraçada. Há uma altura em que tem que se decidir se vale a pena continuar ou abdicar de tudo e fazer outras coisas. Olho para trás e digo: 'Como é que eu aguentei?'" Enquanto decorrer a campanha para as legislativas, a Renascença tira a radiografia ao país em áreas-chave, com histórias na primeira pessoa. Depois da habitação, do emprego, da saúde e das finanças, segue-se, por último, a educação.
É certo que a lei mudou durante a última legislatura, que o Estado não vende casas de devedores (pequenos ou maiores) como antes o fazia, mas, ainda assim, a Autoridade Tributária penhorou mais de 16 mil casas no último ano, a uma média de 48 por dia. Sandra quase viu a sua sê-lo. Por dever, afinal, um Imposto Único Circulação já antigo – isto mesmo tendo sido sempre uma “contribuinte sem cadastro”. O imposto devia-o mesmo, sim, mas avisada da dívida não foi nunca, pois o Fisco enviar-lhe-ia e-mails para um que não existia. “Falta muita humanidade. Na repartição, você fica ali, bate o pé, e pode espernear o que bem lhe apetecer, que a pessoa que está do lado de lá diz que só está a cumprir ordens, é assim que tem de ser e não pode fazer nada”, lamenta. Enquanto decorrer a campanha para as legislativas, a Renascença tira a radiografia ao país em áreas-chave, com histórias na primeira pessoa. Depois da habitação, do emprego e da saúde, seguem-se as finanças.
O Governo prometeu-o vezes sem conta: em breve, todos terão médico de família. Mas o primeiro-ministro, ao prometer, não conta, por ora, as centenas de clínicos prestes a reformar-se (e ficarão 484.937 utentes sem nenhum), nem conta, tão pouco, com a recusa dos jovens médicos agora formados, que preferirão (e estão a preferir já) o privado a um SNS onde se trabalha muito e paga pouco. Poucos terão tantos utentes a cargo (os que são dela e os que o Governo “reformulou” mas continuam a ir ao gabinete dela) como Maria João Palma. E a um ritmo de quase meia centena de consultas por dia, dificilmente algum atenderá tanto. Apesar de gostar do que faz e de, assim, nem se dar pelo cansaço, garante: “Isto não é a regra e não tem que ser a regra. Teria que haver outra solução”. Enquanto decorrer a campanha para as legislativas, a Renascença tira a radiografia ao país em áreas-chave, com histórias na primeira pessoa. Depois da habitação e do emprego, segue-se a saúde.
Tinha esperança que fosse temporário, ela que sempre pensou ser tradutora, mas fá-lo há já seis anos e não vê um fim: Alexandra é operadora de “call center”. Ao fim de um ano, sofreu um esgotamento profissional (quase um terço dos trabalhadores portugueses estão em risco) com o qual ainda luta, a custo de antidepressivos. Esteve de baixa poucas semanas, porque se assim continuasse “não teria o que comer”. Voltou, mas denuncia: “Muito facilmente se morre disto.” O número de desempregados já tocou o valor mais baixo deste século. Mas parte dos novos contratos são, como no “call center” de Alexandra, precários. Enquanto decorrer a campanha para as legislativas, a Renascença tira a radiografia ao país em áreas-chave, com histórias na primeira pessoa. Depois da habitação, segue-se o emprego.
"O terror é constante", lamenta Paula. Mal dorme, mal deseja dormir agora, como que aprisionada na própria casa, onde é inquilina mas vive por direito próprio, sempre com medo, diz, o medo “de que entrem, de que arrombem as portas”. Paula diz ser vítima de assédio moral do próprio senhorio, uma prática impulsionada pela liberalização do mercado de arrendamento e gentrificação das grandes cidades (que fez disparar o número de alojamentos locais), mas proibida por lei há pouco mais de um ano. Enquanto decorrer a campanha para as legislativas, a Renascença tira a radiografia ao país em áreas-chave, com histórias na primeira pessoa, começando pela habitação.