Os incêndios designados como de "sexta geração", que ocorreram pela primeira vez em Portugal em 2017 e repetiram-se este ano, são tão intensos que chegam a transformar-se em tempestades de fogo.
Em causa estão irregularidades alegadamente cometidas por uma pessoa e duas empresas para operar num terreno na Quinta da Barroquinha, junto a Cabanas de Tavira, que terão desrespeitado as normas aplicáveis àquela zona protegida.
Até 15 de outubro, o incendiarismo foi responsável por 28% dos fogos registados este ano. As queimas e queimadas continuam a ser a principal origem, representando 41% do total das causas apuradas.
Manuel e Patrocínia Sequeira pensavam que o fogo já tinha passado, que estavam protegidos e tinham bombeiros por perto. Mas foram apanhados em contrapé com chamas à porta de casa. Em menos de uma semana, por duas vezes, os incêndios ameaçaram Vale de Amoreira, em Manteigas. “Se não fossem os populares, não sei o que a freguesia poderia agora ser”, diz o autarca Nuno Gonçalves.
Cerca de 90% da área florestal da aldeia de Sameiro ardeu. Os estragos estão “à vista de todos”, queixa-se o presidente da junta Miguel Ramos. O sustento de muitos moradores, que dependem da agricultura e da floresta, poderá estar em risco.
Ana fechou-se dentro de casa para não ver as chamas. Tatiana abriu a porta das traseiras do café e percebeu que o fogo estava duas hortas ao lado. Érica lembra-se de ver toda a gente aos gritos e a chorar. Otília defende os bombeiros no terreno enquanto aponta o dedo a quem manda. Verdelhos foi uma das primeiras localidades a serem atingidas pelos incêndios que varreram a Serra da Estrela, as marcas estão à vista de todos.
Foi em Vale Formoso que ardeu a única casa de primeira habitação no grande incêndio que varreu cerca de 29 mil hectares na Serra da Estrela. Daniel Tavares, presidente da junta, diz que vai demorar tempo para a habitação ser recuperada. Perto de metade da freguesia foi afetada pelas chamas. “É desolador ver esta situação, quando há dias ainda estava tudo verdinho.”